Resumo: O transtorno de
estresse pós-traumático (TEPT) se classifica como um transtorno
de ansiedade que ocorre após a exposição a eventos traumáticos na vida do
sujeito. O presente artigo objetiva elucidar os aspectos principais do TEPT a
fim de fornecer elementos para a atualização desse conhecimento. Em seguida, é
discutida sua descrição clínica a partir dos critérios do DSM-IV, possíveis
causas, sintomatologias e modelos de tratamento psicoterápicos e farmacológicos
que podem auxiliar na remissão dos sintomas. Todavia, face à situações
traumáticas, o que irá desencadear o transtorno é a vulnerabilidade biológica,
psicológica e social em que o indivíduo está inserido. A proposta dessa
produção cientifica é articular teoria e prática com o intuito de melhorar o
entendimento, aplicabilidade e funcionalidade do manejo clínico e, por
conseguinte, fornecer subsídios para a construção do saber psicológico.
Palavras-Chave: transtorno de
estresse pós-traumático, descrição clínica, sintomatologia, modelos de
tratamento
Considerações
Iniciais
Classifica-se o transtorno do
estresse pós-traumático (TEPT) como um transtorno de ansiedade que
se origina partir da exposição a algum evento traumático, ou seja, uma situação
de violência física, acidentes automobilísticos, catástrofes naturais, estupro,
seqüestros, morte de entes queridos, assaltos, agressões físicas etc.
De acordo com MESHULAM-WEREBE (2012)
Subjetivamente, os estressores provocam um sentimento de medo intenso, de
impotência e desamparo. Objetivamente, produz grande variedade de sintomas,
como dores de cabeça e crônica, síndrome do cólon irritável, fadiga e alterações
autonômicas intensas associadas à ansiedade. Também podem apresentar estados
dissociativos, que levam a pessoa a reviver as situações traumáticas sob a
forma de flashbacks e pesadelos. Uma pequena proporção dos pacientes
pode apresentar uma cronificação dos sintomas, que culmina na alteração
permanente da personalidade.
A manifestação do trauma irá depender
da suscetibilidade do indivíduo afetado, sua estrutura psíquica e emocional
frente às emoções negativas e experiências conflituosas. No caso do sujeito
desenvolver o transtorno, pode-se observar a partir da manifestar de algumas
características de comportamento atípico, tais como: reviver o evento
repentinamente, ficar alarmadas com facilidade, se irritar rapidamente e evitar
lembranças que recordem o trauma.
Descrição Clínica
O DSM-IV descreve o cenário do TEPT
como a exposição a um acontecimento traumático durante o qual alguém sente
medo, desespero ou horror. Posteriormente, as vítimas experimentam o
acontecimento outra vez por meio de lembranças e pesadelos. Quando as
recordações acontecem muito de repente e as vítimas revivem o fato, fala-se de
em flashback. As vítimas evitam tudo que lhes recorde o trauma.
(BARLOW,2011).
Os indivíduos que sofrem esse tipo de
trauma às vezes não conseguem lembrar alguns aspectos da situação traumática.
Isso decorre muitas vezes de um mecanismo inconsciente que visa evitar a
lembrança da emoção negativa.
Os critérios para TEPT na quarta edição
do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais (DSM-IV) representam
refinamentos dos critérios do DSM-III e da terceira edição revisada do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais (DSM-IV), baseados em avanços
de pesquisa recente. Desse modo, o DSM-IV cita alguns critérios de descrição
clínica para o transtorno de estresse pós-traumático:
1. A pessoa experimentou, testemunhou
ou foi confrontada com um acontecimento ou vários acontecimentos que envolveram
morte ou morte real ou ferimentos graves ou ameaça de integridade física de si
mesma ou de outras pessoas; 2. A resposta da pessoa envolveu medo intenso,
desespero ou horror; 3. Lembranças angustiantes intrusivas e recorrentes em
relação ao acontecimento, incluindo imagens, pensamentos ou percepções. 4.
Esforços para evitar pensamentos, sentimentos ou conversas associadas ao
trauma. 5. Sonhos angustiantes recorrentes relacionados ao acontecimento.
(BARLOW, 2011).
Conforme o DMS-IV algumas
características são mais proeminentes no TEPT, ou seja, grande dificuldade para
dormir e ter sonhos intrusivos recorrentes sobre o acontecimento são
experiências que atrapalham o desenvolvimento social e emocional do indivíduo e
dificulta o seu bem-estar na sociedade.
Sintomatologia
De acordo com o DSM-IV (Manual de
Diagnóstico dos Distúrbios Mentais) a pessoa que pessoa que foi exposta a um
evento traumático pode desenvolver as seguintes características e sintomas:
dificuldade para cair no sono ou permanecer dormindo, irritabilidade ou acessos
de raiva, dificuldade de concentração, hipervigilância, resposta de susto exagerada,
angústia ao se expor a estímulos semelhantes.
Esses sintomas não eram comuns antes do
trauma e se apresentam em virtude do evento, surgem de modo persistente, com
excitação aumentada, angústia, disfunção clínica significativa na área social,
ocupacional e em outras áreas importantes da vida.
Conforme CAMARA FILHO (2001)
tradicionalmente a sintomatologia do TEPT é organizada em três grandes grupos:
o relacionado à reexperiência traumática, à esquiva e distanciamento emocional
e à hiperexcitabilidade psíquica.
Na reexperiência traumática o indivíduo
já está afastado da situação estressora, porém, vivencia a experiência de forma
contemporânea, algumas lembranças recorrentes que ressurgem de modo intrusivo,
provocam um sentimento de angústia e mal estar no paciente. Na esquiva e
distanciamento emocional se desvelam um comportamento de afastamento da
ansiedade gerada pelo fenômeno traumático, ou ainda, um comportamento de evitar
falar sobre o trauma, não falar sobre situações, sentimentos ou pensamentos que
relembrem o fenômeno. Pode-se observar ainda a que diz hiperexcitabilidade
psíquica que se caracteriza por uma sintomatologia de cunho fisiológico
especialmente quando o sujeito está em contato com estímulos-traumáticos.
O TEPT é subdividido em agudo e crônico.
O TEPT agudo pode ser diagnosticado um mês após o acontecimento. Quando o TEPT
continua por mais de três meses, é considerado crônico. Em seu estado crônico
geralmente está associado com comportamentos esquivos mais proeminentes.
(DAVIDSON apud BARLOW, 2011).
Deve-se considerar que alguns
indivíduos não manifestam sintomas de modo instantâneo, demonstram pouca ou
nenhuma característica do trauma, podendo evidenciar um TEPT com surgimento
atrasado, esse fato ainda não possui explicações plausíveis e claras na
ciência.
Causas
O TEPT é um transtorno cuja origem
temos certeza: uma pessoa experimenta pessoalmente um trauma e desenvolve um
transtorno. Entretanto, se alguém desenvolve TEPT ou não, é uma questão mais
complexa, que envolve fatores biológicos, psicológicos e sociais. (BARLOW,
2011).
A intensidade da exposição contribui
para o desenvolvimento do TEPT, mas não é fator determinante para surgimento do
problema. Algumas pesquisas apontam que, quanto maior a vulnerabilidade
biológica e psicológica, mais propenso o sujeito está de desenvolver o TEPT. Um
histórico familiar de ansiedade aumenta a vulnerabilidade biológica para o
desenvolvimento do transtorno, assim como, as experiências anteriores e
acontecimentos imprevisíveis na vida do paciente.
Alguns autores examinaram os fatores
que contribuíram para quem desenvolveu e quem não desenvolveu os sintomas do
TEPT, o apoio social dos pais, de amigos, de colegas de escola e de professores
foi um fator protetor muito importante [...] quanto mais ampla e profunda a
rede social, menor a chance de desenvolver o TEPT. (BARLOW, 2011).
De fato, os aspectos culturais e
sociais são fatores importantes no desenvolvimento do transtorno. Entretanto,
as causas para a manifestação do TEPT não decorre somente da severidade do
trauma, mas tem associações com a simbolização que o indivíduo faz da situação
vivenciada a partir de representações mentais articuladas com a cultura que o
sujeito compartilha.
Tratamento
Na abordagem do TEPT, as intervenções
psicoterápicas e psicossociais, indicadas tanto para prevenção como tratamento
do transtorno, têm tido enfoque especial. A atenção voltada às abordagens em
questão baseia-se no fato de que nem todos os indivíduos submetidos a traumas
importantes desenvolvem o transtorno, o que pode estar relacionado a uma
resposta individual ao estressor ou a uma predisposição única daquele
indivíduo. (SOARES, 2012).
A maioria dos clínicos acredita que as
vítimas de TEPT deveriam encarar o trauma para desenvolver estratégias eficazes
de enfrentamento. A técnica de exposição imaginaria tem sido usada
sistematicamente por muito tempo, a fim de reduzir o conteúdo do evento
traumático e as emoções negativas associadas a este.
O tratamento do TEPT inclui terapia
medicamentosa, terapias cognitivo-comportamental e abordagem psicodinâmica. Há
estudos demonstrando que alguns tipos de TEPT respondem pobremente a terapias
cognitivo-comportamentais e ao tratamento psicofarmacológico. Pacientes que
desenvolvem o TEPT complexo, como mencionado, beneficiam-se de terapias
psicanalíticas. Ocorre grande semelhança entre a psicoterapia do 'complexo
TEPT' e o tratamento analítico de transtornos de personalidade – pode-se
perceber uma ligação, pois o trauma precoce é um fator de risco para ambas as
patologias. (MESHULAM-WEREBE, 2012).
As técnicas cognitivo-comportamentais
trouxeram benefícios significativos no tratamento e redução de pessoas com
TEPT, o tratamento farmacológico também é relevante no transtorno de estresse
pós-traumático, porém, não existe um tratamento universal para todos os tipos
de TEPT, para tanto, é necessário que o profissional faça uma boa avaliação
psicológica de modo que atenda a necessidade e angústia do paciente e solicite
o melhor e mais adequado tratamento, considerando a singularidade de cada ser
humano, sua história de vida,
O tratamento farmacológico desempenha
papel importante e efetivo na redução dos sintomas do TEPT. Algumas pesquisas
indicam que dentre os medicamentos utilizados, os antidepressivos são os mais
eficazes e atuam como bons instrumentos no cuidado da vítima. Nesse caso,
destacam-se a imipramina e sertralina como os fármacos que obtiveram os
resultados mais positivos.
O trabalho da psicologia deve acima de
tudo prestar acolhimento e ajuda a esse homem fragilizado, que muitas vezes
perdeu perspectivas de vida, de futuro. E que deve ser entendido em seu
contexto integral. O manejo desse profissional e de sua equipe multidisciplinar
deve pautar a sua atuação com o foco em aplicar estratégias terapêuticas não só
para reduzir os sintomas mais urgentes, mas também possibilitar a reinserção
desse sujeito na sociedade, e consequentemente, promover uma melhor qualidade
de vida.
Considerações Finais
A partir das observações realizadas
através da literatura específica compreende-se que o transtorno de estresse
pós-traumático pode se manifestar após um evento traumático ou mais
tardiamente. É valido considerar que a realidade subjetiva, os aspectos
culturais, a vulnerabilidade social, a natureza do acontecimento em relação ao
fenômeno estressor são aspectos relevantes para o desenvolvimento, causas e
sintomatologias de tal transtorno. Os tratamentos psicoterapêuticos e
farmacológicos são utilizados tanto pra prevenção como também para restabelecer
a saúde mental do sujeito e possibilitar uma nova qualidade de vida. Portanto,
é necessário à atualização e divulgação desse saber para a promoção de um
atendimento de qualidade e respeito para com a vítima e seus familiares.