domingo, 14 de agosto de 2011

Sigmund Freud (1856-1939)



Sigmund Freud (1856-1939): foi um médico neurologista austríaco, fundador da psicanálise. Fundou a Sociedade Psicanalítica de Viena (1908) e a Sociedade Psicanalítica internacional (1910), da qual fizeram parte Carl Jung e Alfred Adler, seus discípulos mais destacados. Freud iniciou seus estudos pela utilização da hipnose como método de tratamento para pacientes com histéria. Ao observar a melhoria dos pacientes de Charcot, elaborou a hipótese de que a causa da doença era psicológica, não orgânica. Essa hipótese serviu de base para seus outros conceitos, como o do inconsciente. Freud também é conhecido por suas teorias dos mecanismos defesa, repressão psicológica e por criar a utilização clínica da psicanálise como tratamento da psicopatologia, através do diálogo entre o paciente e o psicanalista. Freud acreditava que o desejo sexual era a energia motivacional primária da vida humana, assim como sua técnicas terapêuticas. Ele abandonou o uso de hipnose em pacientes com histeria, em favor da interpretação de sonhos e da livre associação, como fontes dos desejos do inconsciente.
Entre os fundamentos freudianos, destacam-se a influência da sexualidade, do medo da morte e os conceitos de mente consciente e inconsciente.
Aforismos:

1-     “Considerando-se o material com o qual trabalhamos, nunca conseguiremos evitar pequenas explosões no laboratório.” Sigmund Freud  

2-     “A sexualidade é a chave para o problema das psiconeuroses e das neuroses em geral. Ninguém que desdenha a chave será capaz de destravar a porta.” Sigmund Freud  

3-     “A interpretação dos sonhos é a estrada real para o conhecimento das atividades inconscientes da mente.” Sigmund Freud

4-     “Geralmente os sonhos com significado mais profundo são os que parecem mais loucos.” Sigmund Freud  

5-     “Fumar é indispensável quando o indivíduo não tem nada para beijar.” Sigmund Freud  

6-     “Certo grau de neurose é de valor inestimável atuando como um estímulo, principalmente para um psicoterapeuta.” Sigmund Freud  

7-     “Neurose é a incapacidade de se tolerar a ambigüidade.” Sigmund Freud  

8-     “A mente consciente pode ser comparada à água jorrando de uma fonte em pleno sol e retornando ao grande lago subterrâneo do subconsciente de onde ela nasce.” Sigmund Freud  

9-     “Atrás do interdito há um desejo.” Sigmund Freud  

10- “Não me lembro de nenhuma carência na infância tão grande quanto à necessidade de proteção de um pai.” Sigmund Freud  

11- “De mentira em mentira, descobre-se a verdade inteira.” Sigmund Freud

12- “Ninguém progride sem sofrer.” Sigmund Freud

13- “O nome de um ser humano é o principal componente de sua personalidade, talvez seja uma parte de sua alma.” Sigmund Freud  

14- “O pensamento é a ação ensaiando.” Sigmund Freud  

15- “Todo prazer é erótico.” Sigmund Freud  

16- “Precisamos amar para não adoecer.” Sigmund Freud  

17-  “Existem duas maneiras de ser feliz, uma é fazer-se de idiota e a outra, ser idiota.” Sigmund Freud  

18- “Chistes, piadas ou brincadeiras não existem, sempre têm um significado.” Sigmund Freud  

19- “Todo tratamento psicanalítico é uma tentativa de libertar o amor recalcado”. Sigmund Freud  

20- “ Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca cala, as pontas dos dedos falam.” Sigmund Freud  

21- “O falso é às vezes, a verdade de cabeça pra baixo.” Sigmund Freud  

22- “O caráter de um homem é formado pelas pessoas com quem escolheu para conviver.” Sigmund Freud  

23- “As grandes coisas podem ser reveladas através de pequenos indícios.” Sigmund Freud  

24- “Emoções reprimidas jamais morrerão. Elas são enterradas vivas e retornarão mais tarde em formas mais assustadoras.” Sigmund Freud  

25- “O primeiro ser humano que lançou insulto em vez de uma pedra foi o fundador da civilização.” Sigmund Freud

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A psicologia como disciplina no século XVIII



Por Jovi Moura ...


No século XVIII, a psicologia não pôde se tornar uma profissão acadêmica: na época, tais profissões eram apenas o direito, a medicina e a teologia. Não era uma profissão institucionalizada, no entanto, era uma disciplina.Nessa época, a psicologia não tinha cátedras ou departamentos, mas entrou no ensino acadêmico, tornou-se um capítulo nos manuais de filosofia e começou a se disseminar em periódicos e manuais. (Vidal, 2005)

Um novo decálogo do saber

A crença de que o homem pode atingir a verdade absoluta e indubitável desde que siga estritamente os preceitos do método correto acabou por ser criticada no interior do Iluminismo do século XVIII. Segundo Figueiredo e Santi (2004), por diversos caminhos, no século XVIII, a quase onipotência do “eu”, da razão universal e do método seguro, afirmada no século XVII, foi criticada.
Iluminar, ilustrar, esclarecer, fornecer as luzes: a Luz, metáfora da razão desde Platão, torna-se, no século XVIII – o Século das Luzes. Na Inglaterra, na Itália e na Alemanha, proliferam idéias em seu nome, que se não se agrupam em um só movimento, têm o mesmo objetivo: combater o seu oposto, as trevas e o obscurantismo, seja ele filosófico, religioso, moral ou político. (Abrão, 2004)
Vidal (2005) aponta que o empirismo define os elementos básicos da psicologia do século XVIII: rejeição da idéias inatas; crítica dos “sistemas” e da metafísica abstrata e substancialista; apelo à observação e à experiência; e, finalmente, a convicção de que todo o conhecimento começa com as impressões sensíveis, de que as idéias correspondem a essas impressões e que as idéias complexas podem ser “decompostas” em elementos mais simples.
Em geral, os livros de história da psicologia não consideram a psicologia do século XVIII uma disciplina e situam-na no limbo de uma “pré-história” ou de uma história pré-científica. A razão pela qual a psicologia do século XVIII foi julgada pré-científica, filosófica ou especulativa parece derivar da suposição de que a psicologia natural-científica deveria ser necessariamente quantitativa, experimental e independente de propósitos metafísicos e religiosos.(Vidal, 2005)
O conhecimento classificatório da psicologia do século XVIII cede a um modelo empírico em que as faculdades psicológicas passam a ser vistas como processos naturais. A necessidade de classificar o saber como científico ou filosófico se impõe. Autores como Kant processam uma transformação no entendimento do conhecimento, em que a metafísica passa a ser vista como um saber sem fundamento. “É aí que são inicialmente alojados os saberes psicológicos do século XVIII, relegados à mera metafísica na impossibilidade de serem ciências legítimas.” (Ferreira, 2005, pág. 38).
Para se fundar e ser aceita no restrito clube das ciências, a psicologia, durante todo o século XIX, irá tentar cumprir o novo decálogo do saber, buscando objetividade, embasamento matemático e a determinação de um elemento básico de investigação. E na seqüência, esses conceitos naturais passarão a ter funções transcendentais, operando como fundamento para a determinação da natureza humana e condição de todo o saber. (Ferreira, 2005).
Mas é importante entender que para os autores iluministas “estudar o intelecto humano não era um esforço em fazer com que a psicologia explicasse a lógica ou a epistemologia, e muito menos, praticar a psicologia tal como nós a entendemos hoje, mas investigar a própria faculdade lógica e epistêmica.” (Hatfield, 1990).

A psicologia e os estudos sobre a alma

A palavra psychologia popularizou-se inicialmente nos textos sobre alma usados nas universidades protestantes da Alemanha. Ela apareceu na década de 1570 e foi impressa como título pela primeira vez (em caracteres gregos) em 1590 em uma coletânea de discussões sobre a origem e a transmissão da alma racional. Enraizava-se intelectualmente no retorno a Aristóteles e na adoção, dentro das novas universidades protestantes, do método escolástico de raciocínio, caracterizado pela sistematização dedutiva, o formalismo lógico e o rigor conceitual no tratamento da controvérsia filosófica, doutrinal e religiosa. (Vidal,2005).
De acordo com Aristóteles, a alma era definida como a “forma” do corpo natural que potencialmente tem vida. Um corpo “animado” – emphysicos é a palavra grega original – é um tipo de matéria dotada de alma (psyché, anima) e que é capaz de realizar as funções que definem os organismos vivos. A alma era dotada de diferentes poderes ou faculdades: vegetativa, sensível, e racional ou intelectual.
Os seres dotados de alma eram hierarquizados de acordo com as faculdades que eles possuíam: as plantas tinham apenas uma faculdade vegetativa; os animais não humanos tinham a vegetativa e a sensível; e os humanos tinham as três faculdades. Psicologia era, portanto, o nome da ciência geral dos seres vivos e servia como introdução à investigação naturalista das plantas, dos animais e dos seres humanos.
Portanto, no século XVIII, ainda que a psicologia fizesse parte do conjunto de ciências naturais, a compreensão de que os humanos eram dotados de um intelecto imaterial e a alma supostamente persistia depois da morte fazia com que os discursos sobre a alma fossem por vezes situados no campo da metafísica.
Ainda no século XVIII, o inglês John Locke (1632-1704) foi identificado como o pioneiro da tendência psicologizante com seu Esay on Human Uderstanstanding (ensaios sobre o entendimento humano), de 1690, foi descrito como o “Evangelho Psicológico” do Iluminismo.
Voltaire (1694-1778) em suas Lettes Philosophiques (cartas filosóficas) de 1734, declarava que nunca existira “um lógico mais exato” do que Locke e o elogiava por ter escrito uma história da alma em oposição aos romances que haviam sido escritos até então. David Hume (1711- 1776) no Tratado da Natureza Humana, afirmava que a única finalidade da lógica é explicar os princípios e as operações de nossa faculdade de raciocinar, e a natureza das idéias.
O desenvolvimento da psicologia como disciplina e como corpus de um pensamento psicológico apresentou variações através da fronteiras geográficas e lingüísticas.
Existiu uma significativa diversidade de posições no interior do movimento Iluminista, diferenças de princípios e métodos provocadas, em boa medida, pela variedade de contextos nacionais e tradições culturais a partir dos quais ele foi sendo conformado. A historiografia contemporânea tem recusado a representação do Iluminismo como uma filosofia unitária, um sistema doutrinário cerrado em si mesmo.
A abordagem escocesa da mente era marcada pela tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais, tal como proclamado no subtítulo do Tratado da Natureza humana de David Hume.
O que se fazia em psicologia no século XVIII não portava inicialmente esse nome. A Encyclopedia Britannica (1758-1771) definia a psicologia como o conhecimento da alma em geral e da alma do homem em particular. O que, segundo Vidal (2005), representava uma rejeição da psicologia como ciência legítima e empírica da mente.
Na Grã-Bretanha, ao menos, o Iluminismo não era apenas uma questão de rupturas epistemológicas. Ele foi, em primeiro lugar, a expressão de novos valores intelectuais e morais, novos cânones de bom gosto, estilos de sociabilidade e concepções sobre a natureza humana (Porter, 2000). Ao assegurarem-se de que os interesses pessoais e coletivos podiam ser conciliados pelo recurso à idéia da providência divina ou aos conceitos mais ou menos secularizados foram tomando seu lugar, os iluministas britânicos legitimaram o auto-interesse, a busca incessante dos melhoramentos (improvements), a aplicação da ciência e das artes mecânicas a fins práticos, a crença no comércio como um promotor da tolerância e da coesão social. Tudo isso conformou uma via britânica para o Iluminismo, distinta das variantes seguidas no continente por seu acento marcadamente individualista e por seu esforço não para subverter o sistema, mas para protegê-lo. (Cergueira, 2005)
Na França a palavra psicologia, embora conhecida, era ausente do vocabulário filosófico corrente. Vidal (2005) destaca que a agenda anti-clerical e anti-religiosa dos philosophes³ (aqui no sentido geral de “filósofo”, mas referindo-se especificamente aos franceses assim conhecidos na época) contribuiu para estigmatizar uma disciplina cujo nome incluía o termo alma, o que portanto, parecia estar associada aos ensinos obscuros da “escolástica” e ao uso dos conceitos que eram considerados sem sentido. Destutt de Tracy (1754-1836) inventou a palavra “ideologia” (idéologie) para designar a “análise de pensamento”, no lugar de “psicologia”, que, segundo ele, significava “a ciência da alma” e evocava a “vaga busca de causas primeiras”.

(3. philosophes – “os filósofos” é assim que se autodenominam os cidadãos da “república das letras”: Voltaire, Diderot, La Mettrie, D’Alembert, Holbach, Montesquieu, Condillac e Rousseau. São todos escritores e escrevem para um público novo, de não-especialistas. “Lês philosophes tornam-se sinônimo de subversão e pornografia, por defender e praticar a liberdade de pensamento, de que resulta uma nova concepção do mundo e do homem.” (Abrão, 2004, pág. 266))

A psicologia como estudo da mente

A crítica do Iluminismo francês à noção de uma alma substancial indivisível que formaria o eu e se manteria subjacente ao comportamento humano, tomou diversas formas e assumiu muitas estratégias. Segundo Vidal (2005) uma estratégia era a descrição dos efeitos externos dos “movimentos da alma”, tais como a fisionomia e as expressões das paixões. Em uma segunda estratégia, os conceitos metafísicos foram reformulados como noções empíricas. A alma foi substituída por mente (sprit) e depois por moral. A terceira estratégia era a conexão materialista desses conceitos.
Na França, o empirismo entrou nos tratados de educação e inspirou a reforma pedagógica. Depois da Revolução, os ideólogues contribuíram para a criação de diversas instituições públicas do ensino e da pesquisa e assim tiveram ocasião de realizar e disseminar suas idéias psicológicas, pedagógicas e políticas. “A psicologia, portanto seu próprio nome, entretanto, só entrou no ensino acadêmico depois de Napoleão proscrever os ideólogues e principalmente depois da restauração monárquica que sucedeu a queda do regime napoleônico.” (Vidal, 2005, pág. 59).

O Aufklãrung alemão

A Alemanha (que ainda não era um país unificado no século XVIII) no século XVIII era a principal produtora de psicologias e onde a psicologia foi mais longe em sua institucionalização e conquista de um status de disciplina. A palavra psicologia (que apareceu no final do século XVI nas universidades protestantes) era usada com frequência no Aufklãrung ou Iluminismo alemão. Seu destino no século XVIII estava vinculado inicialmente ao sistema filosófico de Christian Wolff (1679-1754) que dominava o ensino da disciplina até o surgimento da filosofia crítica de Kant.
Nesse período a língua alemã era desprezada nos meios cultos, que preferiam o latim e o francês. Foi preciso, então, formar e emancipar a cultura alemã, ao começar pela promoção da língua. A reivindicação iluminista da liberdade de pensamento passa, na Alemanha, pela liberdade de pensar e se expressar em alemão. Nesse idioma, iluminismo se diz Aufklãrung, isto é, esclarecimento, elucidação. (Abrão, 2004)
Na Alemanha as universidades tornaram-se o principal centro da Aufklãrung. E se aproximou mais do racionalismo do século XVII, do que do Empirismo que animou as “luzes da França”.
Durante o século XVIII, na Alemanha, a história da filosofia deslocou-se da erudição para o criticismo kantiano através de uma perspectiva eclética e de uma ênfase na história como progresso. (Vidal, 2005)
Em 1808 surgiu uma História da Psicologia de Friedrich August Carus (1770-1807), de Leipzig. Nesse livro o autor descreveu um progresso que ia das idéias míticas sobre alma e a ausência de sentido de eu, até a psicologia empírica e a disciplina autônoma de sua época. Para Carus a história da Psicologia tinha uma participação no progresso da consciência e reflexividade humanas.
Em suas aulas de 1770 Immanuel Kant (1724-184) explicava que a psicologia empírica tinha permanecido no campo da metafísica não apenas porque os limites da metafísica haviam sido mal interpretados, mas também porque a psicologia não era suficientemente ampla e sistemática. Mas chegara a hora de a psicologia se tornar uma disciplina acadêmica. E essas previsões de Kant começaram a se confirmar na segunda metade do século XVIII, nas Universidades da Alemanha.
Segundo Vidal (2005) o século XVIII foi “o século da psicologia” – tanto para o historiador que se dedica ao iluminismo de um modo geral, quanto para os historiadores da lógica, da estética, da filosofia, da educação, e isso em razão da psicologização que ocorreu nesses e em outros domínios.

Referências

PORTER, Roy. The creation of modern world: the untold story of the British enlightenment. New York: Norton, 2000. citado por: CERQUEIRA, Hugo. Para ler Adam Smith: novas abordagens. Síntese – Revista de filosofia, v. 32,
n. 2, 2005a.
CERQUEIRA, Hugo. Para ler Adam Smith: novas abordagens. Síntese – Revista de filosofia, v. 32,
n. 2, 2005a.
Ferreira, Arthur A. L.. O Múltiplo Surgimento da Psicologia. In: Jacó-Vilela, A. M.; Ferreira, A. A. L.; Portugal, F. T. História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU editora, 2005.

Vidal, F. “A mais útil de todas as ciências”. Configurações da psicologia desde o Renascimento tardio até o fim do Iluminismo. In: Jacó-Vilela, A. M.; Ferreira, A. A. L.; Portugal, F. T. História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU editora, 2005.

Figueiredo, L. C. e Santi, P. L. R. Psicologia: uma (nova) introdução. São Paulo: EDUC, 2004.

Abrão, Bernadette Siqueira. História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural Editora, 2004.

http://artigos.psicologado.com/psicologia-geral/historia-da-psicologia/a-psicologia-como-disciplina-no-seculo-xviii