sexta-feira, 25 de maio de 2012

Meditação: Como? Quando? O que?

 
H. Zimmermann
(Membro da diretoria da Sociedade Antroposófica Geral no Goetheanum,
Dornach, Suíça)

Transcrição de duas palestras proferidas no Espaço Cultural da
Sociedade Antroposófica em São Paulo,
feita por Valdemar W. Setzer a partir da fala original e da tradução
consecutiva de Sonia Setzer; observações do transcritor grafadas com
[...]
Versão de 24/8/05

Primeira palestra, em 31/7/2005

A palavra "meditação" está bastante "gasta": neste recinto deve haver
tantas interpretações para ela quantos são os presentes. Alguns acham
que meditar é tão difícil quanto escalar o Aconcágua; outros acham que
meditar é ter uma música de fundo e estarem deitados em uma cama muito
confortável. Há vários níveis entre esses dois extremos. Para certas
pessoas, meditar exige condições especiais, como um determinado cheiro
no ambiente, ou então pegar-se um pozinho e bebê-lo com água, dizendo
para si: "Agora sinto-me mais leve." Para outros, é preciso ter um
mestre, que estabeleceria a hora em que o discípulo deve levantar-se,
que cadeira deve ser usada, quer roupas devem ser vestidas, etc. É
possível colocar pessoas em estado hipnótico, e também induzirem-se
pessoas a terem imagens maravilhosas de vidas pregressas. Tudo isso
cabe na palavra "meditação".

Hoje e amanhã vamos tratar do que Rudolf Steiner falou sobre esse tema
em palestras e em escritos. Para ele, a meditação é apenas um meio,
entre outros, que pode ajudar em um processo de autodesenvolvimento.
Ele diz que é até perigoso colocá-la no centro da vida.

A primeira frase do livro de Steiner Como se Adquirem Conhecimentos
dos Mundos Superiores [São Paulo: Editora Antroposófica, com o título
O Conhecimento dos Mundos Superiores] diz que em cada ser humano
existem faculdades adormecidas por meio das quais ele pode adquirir
conhecimento dos mundos superiores. Isso não depende da origem da
pessoa e da sua formação.

Existem formas de meditação que partem do estado normal de vigília,
passando para um estado de penumbra, produzindo vivências como de
sonho. Esse é, por exemplo, o caso da hipnose. É tambémL o método que
se praticava na antigüidade, como por exemplo no antigo Egito. O
discípulo do templo tinha que passar por determinadas provas, que eram
um caminho de purificação. Depois delas vinha o momento da iniciação.
Ela consistia em que um sábio, o hierofante, colocava o neófito em um
estado letárgico. Nesse estado, que era como um sono profundo, a
constituição superior do neófito entrava em contato com os mundos
superiores durante 3 dias. Uma vez desperto, o neófito podia contar
todas as vivências que ele tinha tido. Esse procedimento era
perfeitamente válido naquela época. O neófito ficava totalmente
dependente do hierofante. Aqui está a grande diferença para o caminho
de Rudolf Steiner. Ele exige que o discípulo espiritual faça cada
passo de seu caminho por uma ação puramente interior, e não exterior.
Além disso, o seu método implica em partir da máxima consciência
possível, aumentando-a, ao contrário de um estado de sonho – trata-se
de se ter consciência clara durante o sono. Pode-se notar que muitos
caminhos de meditação de hoje remetem a pessoa ao estado do egípcio,
em que a consciência era diminuída; nesse caso não se conta com a
liberdade humana.

O que faz com que uma pessoa queira seguir um caminho meditativo?
Qualquer um de nós tem um sentimento de que o que somos na vida
cotidiana não é tudo; algo vive dentro de nós acima dessa vida. Pode-
se dizer que existe, em cada um, um desejo de se elevar a algo
superior.

Rudolf Steiner dá uma condição fundamental para o caminho, que está no
livro Como se Adquirem Conhecimentos dos Mundos Superiores: é o
sentimento de veneração, pois só se pode desenvolver o conhecimento
dos mundos superiores se se considera que há algo superior por detrás
das aparências.

Magia Branca – pressupõe que há algo superior dentro de cada um. Magia
Negra – usar as forças superiores com fins egoístas, em benefício
próprio. Na meditação, se não forem tomados cuidados, os aspectos de
egoísmo adquirem um poder muito maior do que sem essa prática.

Essa foi uma introdução bem geral. Vamos detalhar os passos. Hoje, e
principalmente amanhã, vamos dar indicações práticas.

Em primeiro lugar, é necessário preparar-se. Cumpre dizer que o
caminho meditativo tem uma infinidade de passos; cada um deve partir
de onde se encontra. Eu estive nesta semana em Botucatu, na Estância
Demétria. Lá o ar era limpo, e podia-se ver muito bem as estrelas e a
Via Láctea; Vênus estava enorme. Pode-se dizer com essa experiência:
"Que maravilha, tenho um sentimento de veneração." Um outro exemplo é
admirar-se la geometria de uma flor. Ou olhar-se nos olhos de uma
criança, que expressam uma total confiança. O caminho pode começar
procurando-se uma vivência desse tipo em cada dia, observando-se
qualquer coisa que nos eleve acima do cotidiano.

O segundo passo é mais difícil. É uma frase que também pertence ao
Como se Adquirem Conhecimentos dos Mundos Superiores: "Reserva-te
momentos de calma interior e aprende a distinguir o essencial do
acessório."

Não é fácil cumprir a determinação de se reservar esses momentos de
calma interior. Pode-se esquecer de fazê-lo ou, durante esses
momentos, tocar o telefone, lembrar-se de que se devia falar com
alguma pessoa, etc. A cada passo que se tenta dar, vem o diabo e diz:
"Não!". Por exemplo, pode-se sentir uma coceira aqui ou acolá,
lembrar-
se de que se esqueceu de desligar o fogão, e assim por diante. Isso é
uma lei e tem que ser assim. Para alguns, o melhor é deixar o dia
terminar e fazer o exercício à noite. Para outros, isso leva a um
adormecer; para esses o melhor é de manhã. O mais importante é decidir
que nesses momentos não se deve ser incomodado – é um momento de
conversa consigo próprio.

Conheço muitas pessoas para as quais a meditação não deu resultado por
falta dessas preparações: elas querem ir para a 4a série sem passar
pelas 1a e 2a séries.

A vida deve mudar. Na vida normal estamos sempre reagindo ao que vem
de fora; estamos sempre um pouco atrasados. Ou, então, vive-se no
passado, "o que ele disse...", ou no futuro, "preciso fazer isso ou
aquilo", e não se vive o presente. Um exemplo é estar-se na fila do
supermercado e se pensar impacientemente: "Quando chegará a minha
vez?" Muitas vezes lamenta-se que se está na fila errada, que não
anda; a coisa fica realmente excitante quando, de repente, abre uma
nova caixa.

Refletindo-se sobre essa situação, no fundo tudo isso é tempo perdido.
O que está acontecendo atrapalha o que deve ocorrer.

No entanto, uma outra atitude é dizer: "Neste momento tenho algum
tempo, vou decorar uma poesia, observar as outras pessoas, planejar a
tarde, etc." De repente o tempo passa rápido, e até lamenta-se que a
vez já chegou.

Há um tempo ocupado e um não-ocupado. No caminho meditativo, trata-se
de se ocupar todo o tempo, sempre fazer-se algo útil. Por exemplo,
fechar de vez em quando os olhos durante o dia. Em volta tudo passa-se
aos borbotões; leva tempo para eliminar toda essa influência. Trata-se
de, uma vez por dia, criar esse espaço interior e estar consigo mesmo.
Isso pode começar com um minuto de respiração lenta e, quando se
chegar a essa calma interior, preencher o espaço assim criado.

No início, pode-se falar uma oração; nesse nível, oração e meditação
são a mesma coisa. Na oração, dirijo meu coração para o divino. No
caso da meditação, o ponto de partida é a consciência e como lido
conscientemente com as coisas. Steiner recomenda pelo menos 5 minutos
para esse tempo de calma interior. Eu acho que hoje deve ser mais do
que 5 minutos; contando o preparo, pelo menos 15 minutos.

Rudolf Steiner dá três âmbitos onde se pode iniciar o caminho de
exercícios. Mas a criação do espaço interior de 15 minutos, mesmo sem
o conteúdo meditativo, já enriquece a vida. No caminho antroposófico,
o próprio caminho é a meta. Quando se consegue criar esse espaço
interior diariamente, já houve um progresso. Hoje há uma fraqueza de
vontade. Não se devem dar passos muito largos, deve-se achar a medida
correta, nem demais, nem de menos.

Quando se percebe que nem esses 15 minutos são conseguidos, devem-se
diminuí-los. Por exemplo, conseguindo-se isso sistematicamente de
manhã antes do café da manhã, pode-se querer prometer-se uma vez mais
durante o dia, depois duas vezes. Se a intenção inicial é fazer isso
durante o próximo mês e depois de três dias pára-se, isso é
paralisante.

Há três âmbitos de exercícios que não podem ser incluídos nesses 15
minutos, mas devem fazer parte do cotidiano.

1. Um exercício é observar, no âmbito da vida, por um lado os
processos de crescimento, floração, desenvolvimento e, de outro, os
processos de fenecer, de desaparecimento. Por exemplo, observar numa
só planta folhas novas e tenras e outras que estão amarelando e
murchando. Num bosque, folhas se decompondo no chão, outras novas nas
plantas. Não se trata apenas de observar esses fenômenos, mas de
prestar atenção aos sentimentos que surgem nessa observação.

Pode acontecer que, ao se observar algo brotando, o primeiro
sentimento é que simplesmente não há sentimento. Isso se deve ao fato
de se ter uma tal quantidade de percepções sensoriais que se esquecem
os sentimentos. Ainda se é um bebê nesta vida. Por isso deve-se olhar
todos os dias para essa planta florescendo, até que se tenha algum
sentimento.

Se só se registra o que se vê, permanece-se apenas na cabeça; são
processos instantâneos. O sentimento precisa de tempo; nele ocorre um
retardo do tempo. Na vida meditativa é necessário desacelerar, passar
de segundos para minutos. Na velocidade atual das pessoas, vive-se nos
segundos. Andando-se de carro em São Paulo não se pode ir com calma –
correr-se-ia perigo de vida.

Deve-se, portanto, criar durante o dia um espaço interior em que o
tempo seja lento. Assim penetra-se no âmbito supra-sensível. O que
vemos na planta fisicamente é a ação das forças plasmadoras, supra-
sensíveis, que fazem a planta crescer e fenecer. Acompanhando-se esse
processo penetra-se no âmbito supra-sensível. Para quem conhece a
Antroposofia, esse é um exercício preparatório para o conhecimento
imaginativo.

2. Exercitar a audição de sons da natureza. Nesse exercício tenta-se
dar atenção às fontes acústicas, da mesma forma que se observou a
planta. Por exemplo, os ruídos da chuva caindo, de um riacho, de
galhos batendo. Tudo isso revela qualidades que, num primeiro passo,
devem ser vivenciadas. Num passo seguinte, deve-se atentar para o som
animal, como o cacarejar de um galo, o mugir de uma vaca, o balir de
uma cabra. Cada um desses sons tem qualidades muito diversas,
vinculadas com a essência do ser. Não se espera de uma vaca gorda
ruminando no pasto que ela faça hi hi hi! O muuu é muito mais redondo.
Aqui se trata também de descobrir o supra-sensível no sensível.

Esses dois exercícios mostram um ponto essencial do caminho do
conhecimento antroposófico: sempre se vincular ao mundo sensório, mas
se reconhecendo a manifestação do supra-sensível. Esse caminho é o do
cultivo dos sentidos para se chegar ao espírito.

Há caminhos iniciáticos que desprezam o mundo sensorial. Esse não é de
modo algum o caminho antroposófico.

3. Cultivo da audição e da fala. Em geral, quando alguém ouve outra
pessoa falar e entende o conteúdo, fica satisfeito. Muitas vezes,
enquanto o outro está falando já se está procurando a resposta.

Neste exercício, trata-se de se imergir no ouvir, deixando de lado o
entendimento do conteúdo. Assim que algo como uma crítica aflora,
deve-
se deixá-la de lado. Com isso penetra-se cada vez mais na esfera do
que se relaciona com o outro, pois na voz de cada pessoa vive algo de
individual, da essência do mesmo. Quando se faz um cultivo interno
dessa capacidade de ouvir o outro, de repente tem-se um raio
instantâneo da essência dessa outra pessoa.

Ao julgar-se, está-se dentro de si próprio. Escutando o outro, não
está-se em si próprio, mas no outro, na periferia de si. Está-se um
pouco fora de si; conscientemente, mediante a própria vontade,
adormece-se dentro do outro. O caminho do conhecimento do supra-
sensível é adormecer conscientemente. Ao adormecer normalmente
esquece-
se tudo: de manhã não há lembrança das vivências tidas durante o sono.
O caminho do autodesenvolvimento consiste em adormecer-se
conscientemente, soltar-se do próprio corpo conservando a consciência.
A prática meditativa consiste em conscientemente escarnar-se da
própria corporalidade.

Passemos aos conteúdos da meditação. Há dois grupos desses conteúdos:

1. Meditações em imagens, concentrando-se em objetos ou símbolos.
Abrange os conteúdos relacionados com imagens produzidas por
representação mental.

2. Meditações no decorrer do tempo, usando-se versos, frases,
pensamentos. Todas as formas que decorrem na sucessão do tempo.

Amanhã veremos mais detalhes. Hoje vamos nos concentrar no primeiro
tipo, usando a "meditação da semente", dada por Rudolf Steiner, no
livro Como se Adquirem Conhecimentos dos Mundos Superiores.

Primeiro passo: "Observemos uma pequena semente de uma planta." É
importante tratar-se de semente de uma planta conhecida. "Convém,
diante dessa coisa insignificante, intensificar os pensamentos
corretos e, através desses pensamentos, desenvolver certos
sentimentos." Importante: partir de algo sensório e, depois,
desenvolver pensamentos e sentimentos. "Em primeiro lugar
conscientizemos o que se vê realmente. Descrevamos a nós mesmos forma,
cor, todos os demais atributos da semente." Portanto, o primeiro passo
é a observação.

Segundo passo. "Depois, reflitamos sobre o seguinte: dessa semente
nascerá uma planta multiforme se for plantada na terra." Agora vejo
algo novo – é um pensamento de que no futuro, a partir da semente,
poderá surgir uma nova planta. "Conscientizemos essa planta,
estruturando-a a seguir na fantasia. ‘O que agora represento em minha
fantasia as forças da terra e da luz mais tarde farão realmente sair
da semente.’"

Terceiro passo. Atividade de formar imagem interior. É necessário
ativar a capacidade de formar imagens, e representar algo que vai ser
e que ainda não existe.

Quarto passo. Ter sentimentos ligados ao que se está imaginando.

Quinto passo. Concentração mental.

Agora já se pode notar que habilidades são necessárias para a
meditação e que já foram exercitadas nos exercícios precedentes:

1. Capacidade de observar detalhadamente. Exemplo: Qual o aspecto de
uma semente conhecida? Pode-se imaginar claramente uma noz?
2. Concentrar-se numa seqüência de pensamentos e ainda acompanhá-los
de sentimentos. Percebe-se que, aquilo que foi executado com
sentimentos ao observar plantas desenvolvendo-se e fenecendo, vai
voltar.
3. Atividade de criar imagens interiores, como o desenvolvimento da
planta.
4. A capacidade de se concentrar, de não permitir que advenham outros
pensamentos.

Pode-se notar como muitas capacidades devem ser desenvolvidas:

1. Como exercitar a capacidade de observação.
2. Como desenvolver a fantasia baseada no pensar.
3. Como desenvolver os sentimentos.
4. Como desenvolver a capacidade de criar imagens interiores.
5. Como aumentar a capacidade de concentração.

Todo isso é essencial para a meditação. Amanhã veremos exemplos mais
concretos.

Segunda palestra, em 31/08/2005

Pode-se considerar que o desenvolvimento da humanidade desde
antigamente consiste em um despertar. Nos tempos antigos, cada pessoa
era essencialmente um membro de uma comunidade. Cada vez mais as
pessoas tornaram-se mais autônomas.

Ontem vimos que a meditação é um caminho para um despertar. Nesse
desenvolvimento individual repete-se o que acontece na evolução da
humanidade, um despertar para o superior. Em tempos antigos a
consciência era mais onírica e, por isso, as pessoas necessitavam de
líderes que lhes davam os impulsos. Hoje cada um pode encontrar dentro
de si algo de divino, que é a fonte de uma autotransformação.

Ontem descrevemos um caminho em que se nota um despertar gradativo no
sentido de se encontrar no mundo sensorial as forças suprasensíveis
que estão por trás dele. No estado de vigília, entramos em uma
seqüência de três passos: 1. Observar o crescer e o fenecer,
acompanhando de sentimentos; 2. Audição, em que se observa o que cada
ser expressa do seu interior; 3. Ouvir outra pessoa, tentando perceber
o que se manifesta nela de espiritual por meio da voz.

Existem basicamente vários passos que levam à meditação; em cada um
pode-se exercitar o que se manifesta no sensório, mas que é a
manifestação de algo espiritual.

Primeiro passo: construir uma cabana interior, um espaço onde se está
protegido para se poder perceber o que vem de cima. Isso significa
encontrar uma fronteira entre o sensível e o supra-sensível, onde é
possível encontrar-se a si próprio. Isso está expresso na frase de que
devemos encontrar em cada dia momentos onde se possa diferenciar o que
é essencial do não-essencial. Nesses espaços deve-se deixar a vida
cotidiana do lado de fora, permitindo encontrar a própria consciência
interior para realizar melhor as tarefas.

Segundo passo, se se deseja continuar o caminho: unir-se a um conteúdo
mental que é dado pelo mundo espiritual.

Em primeiro lugar é necessário estruturar a meditação em vários
níveis: 1) observação; 2) pensamento; 3) formação de imagens
interiores; 4) sentimentos; 5) concentração.

A meditação consiste em tomar-se o resultado desse preparo e ligar-se
com ele com toda a concentração possível e deixar o resto de fora. É
como a entrada em um recinto sagrado. Para entrar numa igreja ou
capela, há um preparo, não se costumando simplesmente entrar da rua –
pensa-se que lá dentro ocorre algo de divino. Se se trata de assistir
um culto, coloca-se roupa adequada, prepara-se o estado de espírito.
Depois abre-se a alma para que ela possa receber o que vem de cima. Na
meditação também é necessário preparar-se e, em seguida, estrutura-se
essa meditação e depois imerge-se nesse conteúdo. É importante unir a
cabeça ao coração. Nessa situação a pessoa deve encontrar-se numa
calma, em um movimento de receber com serenidade. No final é
importante fazer um encerramento, e como que passar por uma porta e aí
entregar-se ao dia-a-dia. Não se deve vincular o ambiente e o conteúdo
da meditação com o dia-a-dia. Somente os frutos da meditação devem
fluir para o cotidiano.

Há dois tipos fundamentais de meditação: na forma de imagens,
envolvendo objetos ou símbolos. Do outro lado, meditação sobre a
linguagem: frases ou pensamentos. Trata-se de dois tipos fundamentais
de meditação. Uma é a que envolve imagens, relacionando-se o que está
lado a lado. Já a meditação em verso relaciona-se com o que é
seqüencial. Vamos discorrer sobre alguns exercícios e até executá-los,
com a finalidade de incrementar aquelas 5 capacidades.

Existem muitos exercícios de concentração, mas não é isso que faremos,
e sim exercícios que ativam o pensar, para que ele se torne mais
produtivo.

1. Vamos partir de um símbolo. Uma meditação dada por Rudolf Steiner
(mas já conhecida anteriormente) concentra-se na forma de duas
espirais entrelaçadas [desenha no quadro-negro duas espirais começando
perto uma da outra, uma terminando em cima e a outra em baixo].

É importante começar com a observação. Essa figura tem dois elementos.
Como eles relacionam-se entre si? Eles são parecidos, mas têm uma
polaridade. Pode-se considerar que a de cima adentra e a de baixo
desenrola-se para fora: uma concentração e uma expansão. Observa-se
que as duas são redondas. Pode-se agora imaginar que há um ponto
central na convergência das duas. Uma vem de cima, termina e
desaparece; a outra ressurge da primeira e volta-se para baixo. Esse é
o primeiro nível, o da observação.

Observando-se mais atentamente, vê-se que é impossível olhar para essa
figura sem fazer um movimento interior. Experimente-se olhar
rigidamente para ela sem fazer um movimento; continuamente se é levado
a ele. De fato, os símbolos meditativos são tais que a pessoa insere-
se nas correntes cósmicas.

Tenta-se agora descobrir quais pensamentos brotam a partir dessa
figura. Por exemplo, os pensamentos de infinito e de desenvolvimento.
Percebe-se que existe um ponto virtual, onde não há nada, de onde
partem novos impulsos. Há situações onde se passa algo que não tem
nada a ver com os sentidos, como o sono e a pausa na música. O que se
passa na pausa na música ecoa do passado e leva para o futuro. Existem
pianistas que sentam-se ao piano e começam imediatamente a tocar;
outros sentam-se e vem uma pausa. A primeira nota fica diferente se há
uma pausa anterior. Também entre a inspiração e a expiração do ar há
um ponto de transição. Pode-se dizer que o ser humano é um ser
respirador. O mesmo se dá com o adormecer e o acordar e com o
nascimento e a morte. Há outras polaridades como essas; na transição
há um espaço supra-sensorial que devemos buscar. Tudo o que se elabora
tendo por base essa forma deve levar a uma abstração, tentando-se
buscar um sentimento de base, e com ele retornar para a forma.

O importante é que a partir da forma foi estimulado um pensar
produtivo, que não está na própria forma.

Esse é um exercício de meditação sobre um símbolo que Steiner deu a um
discípulo com a seguinte indicação: uma involução que desaparece e que
reaparece. Algo que desaparece e depois começa de uma forma nova. É
como uma planta que desaparece no solo no inverno da Europa, para
ressurgir novamente na primavera, a partir da Terra.

Pode-se olhar para essa figura com as espirais e reconhecer a
evolução; a evolução do ser humano e da Terra não são lineares; algo
desaparece e ressurge.

2. Vejamos um outro exercício para concentração; fazendo-se-o por
poucos dias percebe-se que a capacidade de concentração melhora.
Trata-
se de imaginar dois triângulos eqüiláteros iguais com um lado
horizontal comum. [É interessante não se fazer um desenho das figuras
nos vários estágios descritos a seguir, para que a imaginação das
mesmas venha somente de uma criação interior.] Pode-se agora imaginar
que o triângulo inferior fica fixo e que o superior desce mantendo o
eixo meridiano. Quais os diferentes estados? Inicialmente aparece na
interseção um hexágono achatado; continuando o movimento, esse
hexágono vai aumentando, até ficar regular (todos os lados iguais),
quando se está com uma estrela de 6 pontas, a estrela de David.
Continuando, o hexágono interior fica cada vez mais esticado, até que
base do triângulo superior encoste no vértice inferior do outro
triângulo, obtendo-se um losango regular no lugar do hexágono.
Continuando ainda o movimento, o losango, sempre regular, vai
diminuindo e se chega à situação inversa à inicial, em que os
triângulos tocam-se em um vértice. Em seguida imagine-se o triângulo
inferior movendo-se para cima, etc. Esse exercício requer uma
concentração enorme; perdendo-se o fio, deve-se recomeçá-lo novamente.
Um aperfeiçoamento é imaginar o triângulo superior amarelo e o
inferior azul; a interseção deve ser imaginada em verde. Rudolf
Steiner diz que, ao se imaginarem cores, deixa-se para trás o
pensamento ligado ao sensório.

Com esse exercício treina-se a capacidade de formar imagens
interiores.

3. Ainda outro exercício é imaginar-se um círculo vermelho, e em volta
dele um anel verde. Há pessoas que têm dificuldade de imaginar cores.
Se esse for o caso, é interessante imaginar inicialmente tudo
vermelho: grama, vestimenta, árvore. Em seguida, imaginar tudo verde.
Em seguida tenta-se rapidamente condensar esse verde numa
circunferência. Isso é uma ajuda para os que têm dificuldade de
imaginar cores.

O problema começa agora. A área circular geralmente não fica parada;
às vezes foge, ou se movimenta. Pode-se perceber que é necessário um
esforço muito grande para manter a imagem do círculo rodeado pelo
anel.

O exercício consiste em alternarem-se as cores ritmicamente: círculo
verde, anel vermelho, voltar ao original, etc. Pode-se perceber que
isso é muito difícil; quando se consegue alternar 7 vezes já é muito
bom. Deve-se ser muito rápido, pois às vezes a imagem surge e
desaparece. Isso exercita o despertar no mundo da movimentação.

4. Pode-se fazer um outro exercício que conduz a um pensar diferente
do comum. Em geral pensa-se sempre em uma certa coisa ou em outra, de
maneira excludente – sem esse tipo de pensamento não se pode usar um
computador. Para contrapor-se a esse tipo de pensamento, pode-se
imaginar uma circunferência, fazendo seu raio crescer. À medida que a
circunferência cresce, a curvatura diminui até ela transformar-se numa
reta infinita. Isso acontece quando se está no meio do mar, e em toda
a volta tem-se uma linha. É o ponto limítrofe entre o finito e o
infinito. Pode-se em seguida fazer o contrário: imaginar a
circunferência cada vez menor, até reduzir-se-a a um ponto. Um ponto
ideal é infinitamente pequeno, não pode ser desenhado. É algo que não
existe, mas a partir do qual tudo pode surgir. O limite interior das
duas espirais vistas, o que elas têm em comum, é um ponto. Uma
circunferência não é uma reta, e uma reta não é um ponto, nem uma
circunferência é um ponto. Mas o ponto transforma-se em circunferência
e esta transforma-se em reta. De um aparece o outro. Pode-se dizer que
a circunferência vive entre o ponto e uma reta infinita. Dessa forma
os conceitos não se excluem mutuamente, mas transformam-se um no
outro. [Note-se que, no exercício anterior, o ponto de encontro dos
vértices dos dois triângulos é o limite pontual dos losangos de
interseção dos triângulos; os losangos são o limite dos hexágonos,
quando os lados superior e inferior se reduzem a um ponto; o lado
comum inicial dos triângulos é o limite dos hexágonos.]

Podem-se fazer esses exercícios na fila do caixa do supermercado...

Com eles fortalece-se o pensar para a meditação.

Um outro aspecto: qual a qualidade da meditação que tem mais caráter
de imagem e a com mais caráter de palavra?

Na meditação por imagens, o objetivo é formar uma unidade: as rosas e
as cruzes. [Referência à meditação "rosa-cruz"; ver o livro de Steiner
A Ciência Oculta, capítulo "O conhecimento dos mundos superiores, São
Paulo: Ed. Antroposófica.] Observando-se uma obra de arte foca-se
sucessivamente em detalhes, mas se deve buscar a unidade. Quando se
observa uma obra de arte, tudo leva ao movimento. Pode-se dizer que,
basicamente, na meditação em imagens deve-se colocar o que está lado a
lado para movimentar para a unidade.

Na meditação com versos é o contrário – há uma seqüência de
acontecimentos no tempo. No entanto, também se deve procurar uma
unidade. Quando se faz a meditação de um verso, a primeira linha ainda
é valida na 2a, 3a, etc. Em outras palavras, devo transformar uma
seqüência temporal levando a uma unidade, um todo.

Para isso, um exercício maravilhoso é, conhecendo-se bem um verso, ao
dizer a primeira palavra, desenrolar-se todo o resto. Pode-se agora
experimentar dizer interiormente o verso começando pela última linha e
indo até a primeira. Dominando-se essa forma, pode-se falar
interiormente palavra por palavra de trás para frente, e até sílaba a
sílaba (excelentes exercícios para a fila do supermercado!). Quem
conseguir ir contra a seqüência normal de um verso, jamais o esquece.

Os exercícios de imaginar ou falar interiormente algo de trás para
frente são muito bons, pois quando passamos para o mundo supra-
sensível, por exemplo, ao adormecer, tudo se passará de trás para
frente. Por isso Rudolf Steiner recomenda a retrospectiva da noite
para a manhã do dia que está terminando [ver A Ciência Oculta, no
capítulo citado acima]. Assim entra-se no fluxo do depois de
adormecer.

Esses foram apenas exemplos de como preparar-se para a meditação.
Passemos agora à questão de como enfrentar os perigos que podem advir
com ela.

Existe uma frase no Como se Adquirem Conhecimentos dos Mundos
Superiores: "Se se pretende dar um passo no desenvolvimento
espiritual, é preciso dar três passos no desenvolvimento moral".

Os perigos são cair-se num egoísmo refinado e na ilusão. Quando se
chega mais a fundo na Antroposofia, vê-se que não se aprende sobre boa
alimentação, o bom vestuário de seda e de lã; o risco que se corre é a
pessoa entrar em um clima naturalista exagerado, levando a rejeições.
Pode-se ainda despertar na manhã e não continuar a ser um ser social,
pois quando dormimos somos sociais. Por isso é decisivo o adormecer
consciente, passar-se do egóico para a periferia. Isso tem a ver com
uma das metas da meditação, que é separar o âmbito anímico-espiritual
do corpo físico. Esse é um processo de escarnação. A grande pergunta é
o que acontece com os próprios costumes quando o dono da casa vai
passear. Sempre que um espírito deixa um local, sobra um espaço que
pode ser ocupado por um espírito inferior. Daí o grande risco de
pessoas que procuram a soltura do anímico-espiritual: se não fizerem
um desenvolvimento moral elas tornam-se pessoas piores do que eram
antes. Por isso é necessário cuidar para fazer exercícios que tornem a
alma sadia, isto é, desenvolver um pensar sadio, um sentir sadio e um
querer sadio. É como trancar a casa e torná-la sadia.

Rudolf Steiner dá 3 exercícios aparentemente muito fáceis; ele diz que
constituem na realidade um dever:

1. Controle do pensar – concentrar em um pensamento sobre algo bem
objetivo, que corresponda à realidade. Bem simples: 5 minutos por dia
concentrar-se num objeto, por exemplo, numa tesoura – qual o seu
aspecto, seus elementos, o que pode ser feito com ela.

2. Exercício da vontade – planejar alguma ação e realmente executá-la.
A vida atual é calçada de coisas que deveriam ser feitas e que não o
são. Vivemos em um período em que quase não se exercita a vontade.
Pode-se planejar, à noite, algo para o dia seguinte: por exemplo,
antes de pôr a chave na fechadura da porta, bater nela 3 vezes. É
importante que não haja nessa atividade nenhuma necessidade envolvida.
Chega um dia em que se aproxima da à porta e vem a imagem de se estar
batendo nela – isso dá um sentimento imenso de alegria: "Faço o que
decidi." Tem-se com isso um sentimento de soberania sobre si próprio,
de liberdade.

3. Equanimidade de sentimentos. Pelas confrontações muitas vezes
reage-
se sem que se queira. Por exemplo, uma professora que se irrita com um
aluno. Depois fica desgostosa por se ter aborrecido. Não se trata de
não ter sentimentos, mas de dominá-los e não se deixar dominar por
eles.

No livro de Daniel Goleman Inteligência Emocional há uma história de
um samurai que encontra um zen-budista e pergunta a este: "Diga-me
qual a diferença entre céu e inferno". O budista diz: "Não tenho tempo
para responder". O samurai saca a espada e o zen-budista diz: "Isso é
o inferno". O samurai reconhece o mal que iria fazer e repõe a espada
na bainha. Diz então o budista: "Este é o céu". Não ser dominado pelos
sentimentos significa enobrecer o sentir.

Há ainda 2 exercícios mais relacionados com a sociedade:

4. Positividade. Normalmente vemos o que é errado. Não é necessário
ter treino para criticarmos uma outra pessoa. O exercício consiste em
procurar ver algo que pode evoluir, não o que não existe. Por exemplo,
olhar uma rosa e não se fixar nos feios espinhos e sim na beleza da
rosa. Pode-se exercitar o descobrir o lado positivo de tudo. Isso
significa um enriquecimento social incrível. Não é possível ser médico
ou professor sem positividade. O médico precisa acreditar nas forças
de cura; o professor deve crer nas forças para o futuro.

Esse exercício é de importância muito grande para o convívio social.

5. Abertura. Abrir-se a tudo o que o que é novo. Na Alemanha, nos
últimos anos, comparou-se o indivíduo a uma empresa. Isso é horrível,
mas tem algo de realidade: carregamos preconceitos. Ao ver algo,
sabemos imediatamente do que se trata; sabemos o que o outro vai dizer
antes de ele abrir a boca. Carregamos uma série de experiências do
passado, na forma de conceitos e preconceitos. Temos que fazer toda
uma transformação para deixar de lado tudo o que já somos e possuímos.
As qualidades a serem exercidas são abertura e falta de preconceito.

6. O último exercício consiste em exercitar conjuntamente os 5
anteriores.

O todo desses 6 exercícios corresponde ao desenvolvimento do chacra,
ou "flor de lótus", do coração. Isso tem a ver com o que foi
mencionado na primeira palestra – ir cada vez mais da cabeça para o
coração. Não pode ser de outra forma – o resultado deve ser o
incremento humano. Esses exercícios não devem ser feitos para se
melhorar pessoalmente, para dizer a um outro: "você é inferior". Eles
devem ser feitos para se poder atuar melhor, para com eles tornar-se
mais humano. [Ver esses 6 exercícios colaterais no livro A Ciência
Oculta, capítulo citado.]

Esses 6 exercícios colaterais devem ser feitos durante toda a vida. É
interessante formar grupos para discutir as experiências de cada
pessoa com eles, por exemplo de mês em mês. Isso é muito favorável,
pois sabe-se que dentro de um mês haverá uma nova reunião e isso dá um
impulso para fazer os exercícios até lá. Assim forma-se uma comunidade
em torno dos exercícios.


 

Um comentário:

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