sexta-feira, 29 de junho de 2012

A Medicalização da Vida


“La medicina ha avanzado tanto que ya nadie está sano”. Aldous Huxley.

Observa-se na sociedade contemporânea uma busca desenfreada por explicações biológicas, fisiológicas e comportamentais que possam dar conta de diversos tipos de sofrimento psíquico, dentre estes, os mais frequentes são a ansiedade, estresse, depressão, síndrome do pânico, transtorno bipolar e fobias. Todos muito divulgados na mídia através de reportagens e documentários que pretendem ajudar os leigos a identificar os principais sinais e sintomas de seu mal estar, contribuindo assim para que muitos pacientes cheguem ao consultório buscando apenas uma validação da hipótese diagnóstica que obteve através de algum site.
Nesta busca por um alívio imediato dos sintomas, constata-se que cada vez mais pessoas depositam sua confiança em receitas rápidas que possam diminuir o mal estar sem se preocupar em buscar um sentido para este sofrimento. A medicalização da vida e do sofrimento tornou-se uma prática comum e na atualidade tornou-se corriqueiro ir a uma consulta e sair com uma receita em mãos. Segundo Roudinesco (2000) há um pagamento do sujeito, pois seja qual for o sintoma, sempre haverá um medicamento a ser receitado:
Cada paciente é tratado como um ser anônimo, pertencente a uma totalidade orgânica. Imerso numa massa em que todos são criados à imagem de um clone, ele vê ser-lhe receitada à mesma gama de medicamentos, seja qual for o seu sintoma. (ROUDINESCO, 2000).
O grande perigo da situação descrita acima é que se cria uma perspectiva totalizadora do ser humano, na qual se pretende atribuir todos os problemas vivenciais, emocionais a uma explicação orgânica e, especialmente, genética. Assim, difunde-se a idéia de que existe um gene que poderia explicar o alcoolismo, as doenças mentais e a infelicidade, fazendo com que hipóteses duvidosas sejam divulgadas pela mídia como fatos comprovados (Leite, 2011).
Explicar e reduzir a experiência humana através de um saber totalitário, de categorias fechadas e limitadas, CID- 10 e DSM-IV, que oferecem explicações prontas para determinados comportamentos diminui o real do sofrimento e a angústia por não saber a razão deste sofrimento. Assim, percebe-se atualmente uma grande adesão a estas formas de explicação que reduzem e até mesmo impedem o homem de construir através de uma experiência particular e subjetiva um significado para seu sofrimento. (idem).
Além da exacerbada carga medicamentosa prescrita aos adultos, uma constatação ainda mais preocupante é o aumento da medicalização da infância. Atualmente observa-se que crianças e adolescentes que apresentam comportamentos e características de personalidade que diferem dos considerados e catalogados como normais são frequentemente enquadrados em categorias nosológicas e assim rotulados como depressivos, portadores de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade) ou de TDO (Transtorno Desafiador Opositor). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), somente entre 2002 e 2006, a produção brasileira de metilfenidato, medicamento utilizado para o tratamento do TDAH cresceu 465% e as vendas saltaram quase 80% entre 2004 e 2008.
Cabe esclarecer que os psicofármacos, quando prescritos de forma criteriosa e responsável, tornam-se um importante aliado na luta contra o sofrimento humano, mas de forma alguma se deve restringir o tratamento apenas a uma resposta medicamentosa.
Na contramão destas receitas instantâneas, encontra-se a psicanálise. Há mais de cem anos, através da escuta de pacientes histéricas, Freud descobriu que os sintomas apresentados por estas pacientes não eram decorrentes de nenhuma lesão orgânica, mas que estes possuíam um sentido, um significado e estavam relacionados às experiências vivenciadas por estas pacientes.
Ainda hoje a psicanálise acredita que simplesmente extinguir o sintoma é silenciar o sujeito, pois o sintoma representa a única possibilidade encontrada por esse sujeito de expressar algo insuportável, para o qual ainda não foi possível construir nenhuma significação.
Assim, a psicanálise propõe uma experiência subjetiva na qual o sujeito construirá um significado para seu sofrimento, seu sintoma. Sua regra fundamental é a associação livre, que consiste em que o paciente fale livremente sobre seus pensamentos. Através deste método de investigação busca-se essencialmente evidenciar o significado inconsciente das palavras, das ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios, atos falhos) de um sujeito. Desta forma, o sujeito poderá elaborar situações traumáticas, esclarecer conflitos e ressignificar questões dolorosas.
______
"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”.
Clarice Lispector.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Transtorno de Estresse Pós-Traumático: Descrição Clínica, Sintomatologia, Causas e Tratamento


 


Resumo: O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) se classifica como um transtorno de ansiedade que ocorre após a exposição a eventos traumáticos na vida do sujeito. O presente artigo objetiva elucidar os aspectos principais do TEPT a fim de fornecer elementos para a atualização desse conhecimento. Em seguida, é discutida sua descrição clínica a partir dos critérios do DSM-IV, possíveis causas, sintomatologias e modelos de tratamento psicoterápicos e farmacológicos que podem auxiliar na remissão dos sintomas. Todavia, face à situações traumáticas, o que irá desencadear o transtorno é a vulnerabilidade biológica, psicológica e social em que o indivíduo está inserido. A proposta dessa produção cientifica é articular teoria e prática com o intuito de melhorar o entendimento, aplicabilidade e funcionalidade do manejo clínico e, por conseguinte, fornecer subsídios para a construção do saber psicológico.

Palavras-Chave: transtorno de estresse pós-traumático, descrição clínica, sintomatologia, modelos de tratamento

Considerações Iniciais

Classifica-se o transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) como um transtorno de ansiedade que se origina partir da exposição a algum evento traumático, ou seja, uma situação de violência física, acidentes automobilísticos, catástrofes naturais, estupro, seqüestros, morte de entes queridos, assaltos, agressões físicas etc.

De acordo com MESHULAM-WEREBE (2012) Subjetivamente, os estressores provocam um sentimento de medo intenso, de impotência e desamparo. Objetivamente, produz grande variedade de sintomas, como dores de cabeça e crônica, síndrome do cólon irritável, fadiga e alterações autonômicas intensas associadas à ansiedade. Também podem apresentar estados dissociativos, que levam a pessoa a reviver as situações traumáticas sob a forma de flashbacks e pesadelos. Uma pequena proporção dos pacientes pode apresentar uma cronificação dos sintomas, que culmina na alteração permanente da personalidade.

A manifestação do trauma irá depender da suscetibilidade do indivíduo afetado, sua estrutura psíquica e emocional frente às emoções negativas e experiências conflituosas. No caso do sujeito desenvolver o transtorno, pode-se observar a partir da manifestar de algumas características de comportamento atípico, tais como: reviver o evento repentinamente, ficar alarmadas com facilidade, se irritar rapidamente e evitar lembranças que recordem o trauma.

Descrição Clínica

O DSM-IV descreve o cenário do TEPT como a exposição a um acontecimento traumático durante o qual alguém sente medo, desespero ou horror. Posteriormente, as vítimas experimentam o acontecimento outra vez por meio de lembranças e pesadelos. Quando as recordações acontecem muito de repente e as vítimas revivem o fato, fala-se de em flashback. As vítimas evitam tudo que lhes recorde o trauma. (BARLOW,2011).

Os indivíduos que sofrem esse tipo de trauma às vezes não conseguem lembrar alguns aspectos da situação traumática. Isso decorre muitas vezes de um mecanismo inconsciente que visa evitar a lembrança da emoção negativa.

Os critérios para TEPT na quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais (DSM-IV) representam refinamentos dos critérios do DSM-III e da terceira edição revisada do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais (DSM-IV), baseados em avanços de pesquisa recente. Desse modo, o DSM-IV cita alguns critérios de descrição clínica para o transtorno de estresse pós-traumático:

1. A pessoa experimentou, testemunhou ou foi confrontada com um acontecimento ou vários acontecimentos que envolveram morte ou morte real ou ferimentos graves ou ameaça de integridade física de si mesma ou de outras pessoas; 2. A resposta da pessoa envolveu medo intenso, desespero ou horror; 3. Lembranças angustiantes intrusivas e recorrentes em relação ao acontecimento, incluindo imagens, pensamentos ou percepções. 4. Esforços para evitar pensamentos, sentimentos ou conversas associadas ao trauma. 5. Sonhos angustiantes recorrentes relacionados ao acontecimento. (BARLOW, 2011).

Conforme o DMS-IV algumas características são mais proeminentes no TEPT, ou seja, grande dificuldade para dormir e ter sonhos intrusivos recorrentes sobre o acontecimento são experiências que atrapalham o desenvolvimento social e emocional do indivíduo e dificulta o seu bem-estar na sociedade.

Sintomatologia

De acordo com o DSM-IV (Manual de Diagnóstico dos Distúrbios Mentais) a pessoa que pessoa que foi exposta a um evento traumático pode desenvolver as seguintes características e sintomas: dificuldade para cair no sono ou permanecer dormindo, irritabilidade ou acessos de raiva, dificuldade de concentração, hipervigilância, resposta de susto exagerada, angústia ao se expor a estímulos semelhantes.

Esses sintomas não eram comuns antes do trauma e se apresentam em virtude do evento, surgem de modo persistente, com excitação aumentada, angústia, disfunção clínica significativa na área social, ocupacional e em outras áreas importantes da vida.

Conforme CAMARA FILHO (2001) tradicionalmente a sintomatologia do TEPT é organizada em três grandes grupos: o relacionado à reexperiência traumática, à esquiva e distanciamento emocional e à hiperexcitabilidade psíquica.

Na reexperiência traumática o indivíduo já está afastado da situação estressora, porém, vivencia a experiência de forma contemporânea, algumas lembranças recorrentes que ressurgem de modo intrusivo, provocam um sentimento de angústia e mal estar no paciente. Na esquiva e distanciamento emocional se desvelam um comportamento de afastamento da ansiedade gerada pelo fenômeno traumático, ou ainda, um comportamento de evitar falar sobre o trauma, não falar sobre situações, sentimentos ou pensamentos que relembrem o fenômeno. Pode-se observar ainda a que diz hiperexcitabilidade psíquica que se caracteriza por uma sintomatologia de cunho fisiológico especialmente quando o sujeito está em contato com estímulos-traumáticos.

O TEPT é subdividido em agudo e crônico. O TEPT agudo pode ser diagnosticado um mês após o acontecimento. Quando o TEPT continua por mais de três meses, é considerado crônico. Em seu estado crônico geralmente está associado com comportamentos esquivos mais proeminentes. (DAVIDSON apud BARLOW, 2011).

Deve-se considerar que alguns indivíduos não manifestam sintomas de modo instantâneo, demonstram pouca ou nenhuma característica do trauma, podendo evidenciar um TEPT com surgimento atrasado, esse fato ainda não possui explicações plausíveis e claras na ciência.

Causas

O TEPT é um transtorno cuja origem temos certeza: uma pessoa experimenta pessoalmente um trauma e desenvolve um transtorno. Entretanto, se alguém desenvolve TEPT ou não, é uma questão mais complexa, que envolve fatores biológicos, psicológicos e sociais. (BARLOW, 2011).

A intensidade da exposição contribui para o desenvolvimento do TEPT, mas não é fator determinante para surgimento do problema. Algumas pesquisas apontam que, quanto maior a vulnerabilidade biológica e psicológica, mais propenso o sujeito está de desenvolver o TEPT. Um histórico familiar de ansiedade aumenta a vulnerabilidade biológica para o desenvolvimento do transtorno, assim como, as experiências anteriores e acontecimentos imprevisíveis na vida do paciente.

Alguns autores examinaram os fatores que contribuíram para quem desenvolveu e quem não desenvolveu os sintomas do TEPT, o apoio social dos pais, de amigos, de colegas de escola e de professores foi um fator protetor muito importante [...] quanto mais ampla e profunda a rede social, menor a chance de desenvolver o TEPT. (BARLOW, 2011).

De fato, os aspectos culturais e sociais são fatores importantes no desenvolvimento do transtorno. Entretanto, as causas para a manifestação do TEPT não decorre somente da severidade do trauma, mas tem associações com a simbolização que o indivíduo faz da situação vivenciada a partir de representações mentais articuladas com a cultura que o sujeito compartilha.

Tratamento

Na abordagem do TEPT, as intervenções psicoterápicas e psicossociais, indicadas tanto para prevenção como tratamento do transtorno, têm tido enfoque especial. A atenção voltada às abordagens em questão baseia-se no fato de que nem todos os indivíduos submetidos a traumas importantes desenvolvem o transtorno, o que pode estar relacionado a uma resposta individual ao estressor ou a uma predisposição única daquele indivíduo. (SOARES, 2012).

A maioria dos clínicos acredita que as vítimas de TEPT deveriam encarar o trauma para desenvolver estratégias eficazes de enfrentamento. A técnica de exposição imaginaria tem sido usada sistematicamente por muito tempo, a fim de reduzir o conteúdo do evento traumático e as emoções negativas associadas a este.

O tratamento do TEPT inclui terapia medicamentosa, terapias cognitivo-comportamental e abordagem psicodinâmica. Há estudos demonstrando que alguns tipos de TEPT respondem pobremente a terapias cognitivo-comportamentais e ao tratamento psicofarmacológico. Pacientes que desenvolvem o TEPT complexo, como mencionado, beneficiam-se de terapias psicanalíticas. Ocorre grande semelhança entre a psicoterapia do 'complexo TEPT' e o tratamento analítico de transtornos de personalidade – pode-se perceber uma ligação, pois o trauma precoce é um fator de risco para ambas as patologias. (MESHULAM-WEREBE, 2012).

As técnicas cognitivo-comportamentais trouxeram benefícios significativos no tratamento e redução de pessoas com TEPT, o tratamento farmacológico também é relevante no transtorno de estresse pós-traumático, porém, não existe um tratamento universal para todos os tipos de TEPT, para tanto, é necessário que o profissional faça uma boa avaliação psicológica de modo que atenda a necessidade e angústia do paciente e solicite o melhor e mais adequado tratamento, considerando a singularidade de cada ser humano, sua história de vida,

O tratamento farmacológico desempenha papel importante e efetivo na redução dos sintomas do TEPT. Algumas pesquisas indicam que dentre os medicamentos utilizados, os antidepressivos são os mais eficazes e atuam como bons instrumentos no cuidado da vítima. Nesse caso, destacam-se a imipramina e sertralina como os fármacos que obtiveram os resultados mais positivos.

O trabalho da psicologia deve acima de tudo prestar acolhimento e ajuda a esse homem fragilizado, que muitas vezes perdeu perspectivas de vida, de futuro. E que deve ser entendido em seu contexto integral. O manejo desse profissional e de sua equipe multidisciplinar deve pautar a sua atuação com o foco em aplicar estratégias terapêuticas não só para reduzir os sintomas mais urgentes, mas também possibilitar a reinserção desse sujeito na sociedade, e consequentemente, promover uma melhor qualidade de vida.

Considerações Finais

A partir das observações realizadas através da literatura específica compreende-se que o transtorno de estresse pós-traumático pode se manifestar após um evento traumático ou mais tardiamente. É valido considerar que a realidade subjetiva, os aspectos culturais, a vulnerabilidade social, a natureza do acontecimento em relação ao fenômeno estressor são aspectos relevantes para o desenvolvimento, causas e sintomatologias de tal transtorno. Os tratamentos psicoterapêuticos e farmacológicos são utilizados tanto pra prevenção como também para restabelecer a saúde mental do sujeito e possibilitar uma nova qualidade de vida. Portanto, é necessário à atualização e divulgação desse saber para a promoção de um atendimento de qualidade e respeito para com a vítima e seus familiares.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Meditação: Como? Quando? O que?

 
H. Zimmermann
(Membro da diretoria da Sociedade Antroposófica Geral no Goetheanum,
Dornach, Suíça)

Transcrição de duas palestras proferidas no Espaço Cultural da
Sociedade Antroposófica em São Paulo,
feita por Valdemar W. Setzer a partir da fala original e da tradução
consecutiva de Sonia Setzer; observações do transcritor grafadas com
[...]
Versão de 24/8/05

Primeira palestra, em 31/7/2005

A palavra "meditação" está bastante "gasta": neste recinto deve haver
tantas interpretações para ela quantos são os presentes. Alguns acham
que meditar é tão difícil quanto escalar o Aconcágua; outros acham que
meditar é ter uma música de fundo e estarem deitados em uma cama muito
confortável. Há vários níveis entre esses dois extremos. Para certas
pessoas, meditar exige condições especiais, como um determinado cheiro
no ambiente, ou então pegar-se um pozinho e bebê-lo com água, dizendo
para si: "Agora sinto-me mais leve." Para outros, é preciso ter um
mestre, que estabeleceria a hora em que o discípulo deve levantar-se,
que cadeira deve ser usada, quer roupas devem ser vestidas, etc. É
possível colocar pessoas em estado hipnótico, e também induzirem-se
pessoas a terem imagens maravilhosas de vidas pregressas. Tudo isso
cabe na palavra "meditação".

Hoje e amanhã vamos tratar do que Rudolf Steiner falou sobre esse tema
em palestras e em escritos. Para ele, a meditação é apenas um meio,
entre outros, que pode ajudar em um processo de autodesenvolvimento.
Ele diz que é até perigoso colocá-la no centro da vida.

A primeira frase do livro de Steiner Como se Adquirem Conhecimentos
dos Mundos Superiores [São Paulo: Editora Antroposófica, com o título
O Conhecimento dos Mundos Superiores] diz que em cada ser humano
existem faculdades adormecidas por meio das quais ele pode adquirir
conhecimento dos mundos superiores. Isso não depende da origem da
pessoa e da sua formação.

Existem formas de meditação que partem do estado normal de vigília,
passando para um estado de penumbra, produzindo vivências como de
sonho. Esse é, por exemplo, o caso da hipnose. É tambémL o método que
se praticava na antigüidade, como por exemplo no antigo Egito. O
discípulo do templo tinha que passar por determinadas provas, que eram
um caminho de purificação. Depois delas vinha o momento da iniciação.
Ela consistia em que um sábio, o hierofante, colocava o neófito em um
estado letárgico. Nesse estado, que era como um sono profundo, a
constituição superior do neófito entrava em contato com os mundos
superiores durante 3 dias. Uma vez desperto, o neófito podia contar
todas as vivências que ele tinha tido. Esse procedimento era
perfeitamente válido naquela época. O neófito ficava totalmente
dependente do hierofante. Aqui está a grande diferença para o caminho
de Rudolf Steiner. Ele exige que o discípulo espiritual faça cada
passo de seu caminho por uma ação puramente interior, e não exterior.
Além disso, o seu método implica em partir da máxima consciência
possível, aumentando-a, ao contrário de um estado de sonho – trata-se
de se ter consciência clara durante o sono. Pode-se notar que muitos
caminhos de meditação de hoje remetem a pessoa ao estado do egípcio,
em que a consciência era diminuída; nesse caso não se conta com a
liberdade humana.

O que faz com que uma pessoa queira seguir um caminho meditativo?
Qualquer um de nós tem um sentimento de que o que somos na vida
cotidiana não é tudo; algo vive dentro de nós acima dessa vida. Pode-
se dizer que existe, em cada um, um desejo de se elevar a algo
superior.

Rudolf Steiner dá uma condição fundamental para o caminho, que está no
livro Como se Adquirem Conhecimentos dos Mundos Superiores: é o
sentimento de veneração, pois só se pode desenvolver o conhecimento
dos mundos superiores se se considera que há algo superior por detrás
das aparências.

Magia Branca – pressupõe que há algo superior dentro de cada um. Magia
Negra – usar as forças superiores com fins egoístas, em benefício
próprio. Na meditação, se não forem tomados cuidados, os aspectos de
egoísmo adquirem um poder muito maior do que sem essa prática.

Essa foi uma introdução bem geral. Vamos detalhar os passos. Hoje, e
principalmente amanhã, vamos dar indicações práticas.

Em primeiro lugar, é necessário preparar-se. Cumpre dizer que o
caminho meditativo tem uma infinidade de passos; cada um deve partir
de onde se encontra. Eu estive nesta semana em Botucatu, na Estância
Demétria. Lá o ar era limpo, e podia-se ver muito bem as estrelas e a
Via Láctea; Vênus estava enorme. Pode-se dizer com essa experiência:
"Que maravilha, tenho um sentimento de veneração." Um outro exemplo é
admirar-se la geometria de uma flor. Ou olhar-se nos olhos de uma
criança, que expressam uma total confiança. O caminho pode começar
procurando-se uma vivência desse tipo em cada dia, observando-se
qualquer coisa que nos eleve acima do cotidiano.

O segundo passo é mais difícil. É uma frase que também pertence ao
Como se Adquirem Conhecimentos dos Mundos Superiores: "Reserva-te
momentos de calma interior e aprende a distinguir o essencial do
acessório."

Não é fácil cumprir a determinação de se reservar esses momentos de
calma interior. Pode-se esquecer de fazê-lo ou, durante esses
momentos, tocar o telefone, lembrar-se de que se devia falar com
alguma pessoa, etc. A cada passo que se tenta dar, vem o diabo e diz:
"Não!". Por exemplo, pode-se sentir uma coceira aqui ou acolá,
lembrar-
se de que se esqueceu de desligar o fogão, e assim por diante. Isso é
uma lei e tem que ser assim. Para alguns, o melhor é deixar o dia
terminar e fazer o exercício à noite. Para outros, isso leva a um
adormecer; para esses o melhor é de manhã. O mais importante é decidir
que nesses momentos não se deve ser incomodado – é um momento de
conversa consigo próprio.

Conheço muitas pessoas para as quais a meditação não deu resultado por
falta dessas preparações: elas querem ir para a 4a série sem passar
pelas 1a e 2a séries.

A vida deve mudar. Na vida normal estamos sempre reagindo ao que vem
de fora; estamos sempre um pouco atrasados. Ou, então, vive-se no
passado, "o que ele disse...", ou no futuro, "preciso fazer isso ou
aquilo", e não se vive o presente. Um exemplo é estar-se na fila do
supermercado e se pensar impacientemente: "Quando chegará a minha
vez?" Muitas vezes lamenta-se que se está na fila errada, que não
anda; a coisa fica realmente excitante quando, de repente, abre uma
nova caixa.

Refletindo-se sobre essa situação, no fundo tudo isso é tempo perdido.
O que está acontecendo atrapalha o que deve ocorrer.

No entanto, uma outra atitude é dizer: "Neste momento tenho algum
tempo, vou decorar uma poesia, observar as outras pessoas, planejar a
tarde, etc." De repente o tempo passa rápido, e até lamenta-se que a
vez já chegou.

Há um tempo ocupado e um não-ocupado. No caminho meditativo, trata-se
de se ocupar todo o tempo, sempre fazer-se algo útil. Por exemplo,
fechar de vez em quando os olhos durante o dia. Em volta tudo passa-se
aos borbotões; leva tempo para eliminar toda essa influência. Trata-se
de, uma vez por dia, criar esse espaço interior e estar consigo mesmo.
Isso pode começar com um minuto de respiração lenta e, quando se
chegar a essa calma interior, preencher o espaço assim criado.

No início, pode-se falar uma oração; nesse nível, oração e meditação
são a mesma coisa. Na oração, dirijo meu coração para o divino. No
caso da meditação, o ponto de partida é a consciência e como lido
conscientemente com as coisas. Steiner recomenda pelo menos 5 minutos
para esse tempo de calma interior. Eu acho que hoje deve ser mais do
que 5 minutos; contando o preparo, pelo menos 15 minutos.

Rudolf Steiner dá três âmbitos onde se pode iniciar o caminho de
exercícios. Mas a criação do espaço interior de 15 minutos, mesmo sem
o conteúdo meditativo, já enriquece a vida. No caminho antroposófico,
o próprio caminho é a meta. Quando se consegue criar esse espaço
interior diariamente, já houve um progresso. Hoje há uma fraqueza de
vontade. Não se devem dar passos muito largos, deve-se achar a medida
correta, nem demais, nem de menos.

Quando se percebe que nem esses 15 minutos são conseguidos, devem-se
diminuí-los. Por exemplo, conseguindo-se isso sistematicamente de
manhã antes do café da manhã, pode-se querer prometer-se uma vez mais
durante o dia, depois duas vezes. Se a intenção inicial é fazer isso
durante o próximo mês e depois de três dias pára-se, isso é
paralisante.

Há três âmbitos de exercícios que não podem ser incluídos nesses 15
minutos, mas devem fazer parte do cotidiano.

1. Um exercício é observar, no âmbito da vida, por um lado os
processos de crescimento, floração, desenvolvimento e, de outro, os
processos de fenecer, de desaparecimento. Por exemplo, observar numa
só planta folhas novas e tenras e outras que estão amarelando e
murchando. Num bosque, folhas se decompondo no chão, outras novas nas
plantas. Não se trata apenas de observar esses fenômenos, mas de
prestar atenção aos sentimentos que surgem nessa observação.

Pode acontecer que, ao se observar algo brotando, o primeiro
sentimento é que simplesmente não há sentimento. Isso se deve ao fato
de se ter uma tal quantidade de percepções sensoriais que se esquecem
os sentimentos. Ainda se é um bebê nesta vida. Por isso deve-se olhar
todos os dias para essa planta florescendo, até que se tenha algum
sentimento.

Se só se registra o que se vê, permanece-se apenas na cabeça; são
processos instantâneos. O sentimento precisa de tempo; nele ocorre um
retardo do tempo. Na vida meditativa é necessário desacelerar, passar
de segundos para minutos. Na velocidade atual das pessoas, vive-se nos
segundos. Andando-se de carro em São Paulo não se pode ir com calma –
correr-se-ia perigo de vida.

Deve-se, portanto, criar durante o dia um espaço interior em que o
tempo seja lento. Assim penetra-se no âmbito supra-sensível. O que
vemos na planta fisicamente é a ação das forças plasmadoras, supra-
sensíveis, que fazem a planta crescer e fenecer. Acompanhando-se esse
processo penetra-se no âmbito supra-sensível. Para quem conhece a
Antroposofia, esse é um exercício preparatório para o conhecimento
imaginativo.

2. Exercitar a audição de sons da natureza. Nesse exercício tenta-se
dar atenção às fontes acústicas, da mesma forma que se observou a
planta. Por exemplo, os ruídos da chuva caindo, de um riacho, de
galhos batendo. Tudo isso revela qualidades que, num primeiro passo,
devem ser vivenciadas. Num passo seguinte, deve-se atentar para o som
animal, como o cacarejar de um galo, o mugir de uma vaca, o balir de
uma cabra. Cada um desses sons tem qualidades muito diversas,
vinculadas com a essência do ser. Não se espera de uma vaca gorda
ruminando no pasto que ela faça hi hi hi! O muuu é muito mais redondo.
Aqui se trata também de descobrir o supra-sensível no sensível.

Esses dois exercícios mostram um ponto essencial do caminho do
conhecimento antroposófico: sempre se vincular ao mundo sensório, mas
se reconhecendo a manifestação do supra-sensível. Esse caminho é o do
cultivo dos sentidos para se chegar ao espírito.

Há caminhos iniciáticos que desprezam o mundo sensorial. Esse não é de
modo algum o caminho antroposófico.

3. Cultivo da audição e da fala. Em geral, quando alguém ouve outra
pessoa falar e entende o conteúdo, fica satisfeito. Muitas vezes,
enquanto o outro está falando já se está procurando a resposta.

Neste exercício, trata-se de se imergir no ouvir, deixando de lado o
entendimento do conteúdo. Assim que algo como uma crítica aflora,
deve-
se deixá-la de lado. Com isso penetra-se cada vez mais na esfera do
que se relaciona com o outro, pois na voz de cada pessoa vive algo de
individual, da essência do mesmo. Quando se faz um cultivo interno
dessa capacidade de ouvir o outro, de repente tem-se um raio
instantâneo da essência dessa outra pessoa.

Ao julgar-se, está-se dentro de si próprio. Escutando o outro, não
está-se em si próprio, mas no outro, na periferia de si. Está-se um
pouco fora de si; conscientemente, mediante a própria vontade,
adormece-se dentro do outro. O caminho do conhecimento do supra-
sensível é adormecer conscientemente. Ao adormecer normalmente
esquece-
se tudo: de manhã não há lembrança das vivências tidas durante o sono.
O caminho do autodesenvolvimento consiste em adormecer-se
conscientemente, soltar-se do próprio corpo conservando a consciência.
A prática meditativa consiste em conscientemente escarnar-se da
própria corporalidade.

Passemos aos conteúdos da meditação. Há dois grupos desses conteúdos:

1. Meditações em imagens, concentrando-se em objetos ou símbolos.
Abrange os conteúdos relacionados com imagens produzidas por
representação mental.

2. Meditações no decorrer do tempo, usando-se versos, frases,
pensamentos. Todas as formas que decorrem na sucessão do tempo.

Amanhã veremos mais detalhes. Hoje vamos nos concentrar no primeiro
tipo, usando a "meditação da semente", dada por Rudolf Steiner, no
livro Como se Adquirem Conhecimentos dos Mundos Superiores.

Primeiro passo: "Observemos uma pequena semente de uma planta." É
importante tratar-se de semente de uma planta conhecida. "Convém,
diante dessa coisa insignificante, intensificar os pensamentos
corretos e, através desses pensamentos, desenvolver certos
sentimentos." Importante: partir de algo sensório e, depois,
desenvolver pensamentos e sentimentos. "Em primeiro lugar
conscientizemos o que se vê realmente. Descrevamos a nós mesmos forma,
cor, todos os demais atributos da semente." Portanto, o primeiro passo
é a observação.

Segundo passo. "Depois, reflitamos sobre o seguinte: dessa semente
nascerá uma planta multiforme se for plantada na terra." Agora vejo
algo novo – é um pensamento de que no futuro, a partir da semente,
poderá surgir uma nova planta. "Conscientizemos essa planta,
estruturando-a a seguir na fantasia. ‘O que agora represento em minha
fantasia as forças da terra e da luz mais tarde farão realmente sair
da semente.’"

Terceiro passo. Atividade de formar imagem interior. É necessário
ativar a capacidade de formar imagens, e representar algo que vai ser
e que ainda não existe.

Quarto passo. Ter sentimentos ligados ao que se está imaginando.

Quinto passo. Concentração mental.

Agora já se pode notar que habilidades são necessárias para a
meditação e que já foram exercitadas nos exercícios precedentes:

1. Capacidade de observar detalhadamente. Exemplo: Qual o aspecto de
uma semente conhecida? Pode-se imaginar claramente uma noz?
2. Concentrar-se numa seqüência de pensamentos e ainda acompanhá-los
de sentimentos. Percebe-se que, aquilo que foi executado com
sentimentos ao observar plantas desenvolvendo-se e fenecendo, vai
voltar.
3. Atividade de criar imagens interiores, como o desenvolvimento da
planta.
4. A capacidade de se concentrar, de não permitir que advenham outros
pensamentos.

Pode-se notar como muitas capacidades devem ser desenvolvidas:

1. Como exercitar a capacidade de observação.
2. Como desenvolver a fantasia baseada no pensar.
3. Como desenvolver os sentimentos.
4. Como desenvolver a capacidade de criar imagens interiores.
5. Como aumentar a capacidade de concentração.

Todo isso é essencial para a meditação. Amanhã veremos exemplos mais
concretos.

Segunda palestra, em 31/08/2005

Pode-se considerar que o desenvolvimento da humanidade desde
antigamente consiste em um despertar. Nos tempos antigos, cada pessoa
era essencialmente um membro de uma comunidade. Cada vez mais as
pessoas tornaram-se mais autônomas.

Ontem vimos que a meditação é um caminho para um despertar. Nesse
desenvolvimento individual repete-se o que acontece na evolução da
humanidade, um despertar para o superior. Em tempos antigos a
consciência era mais onírica e, por isso, as pessoas necessitavam de
líderes que lhes davam os impulsos. Hoje cada um pode encontrar dentro
de si algo de divino, que é a fonte de uma autotransformação.

Ontem descrevemos um caminho em que se nota um despertar gradativo no
sentido de se encontrar no mundo sensorial as forças suprasensíveis
que estão por trás dele. No estado de vigília, entramos em uma
seqüência de três passos: 1. Observar o crescer e o fenecer,
acompanhando de sentimentos; 2. Audição, em que se observa o que cada
ser expressa do seu interior; 3. Ouvir outra pessoa, tentando perceber
o que se manifesta nela de espiritual por meio da voz.

Existem basicamente vários passos que levam à meditação; em cada um
pode-se exercitar o que se manifesta no sensório, mas que é a
manifestação de algo espiritual.

Primeiro passo: construir uma cabana interior, um espaço onde se está
protegido para se poder perceber o que vem de cima. Isso significa
encontrar uma fronteira entre o sensível e o supra-sensível, onde é
possível encontrar-se a si próprio. Isso está expresso na frase de que
devemos encontrar em cada dia momentos onde se possa diferenciar o que
é essencial do não-essencial. Nesses espaços deve-se deixar a vida
cotidiana do lado de fora, permitindo encontrar a própria consciência
interior para realizar melhor as tarefas.

Segundo passo, se se deseja continuar o caminho: unir-se a um conteúdo
mental que é dado pelo mundo espiritual.

Em primeiro lugar é necessário estruturar a meditação em vários
níveis: 1) observação; 2) pensamento; 3) formação de imagens
interiores; 4) sentimentos; 5) concentração.

A meditação consiste em tomar-se o resultado desse preparo e ligar-se
com ele com toda a concentração possível e deixar o resto de fora. É
como a entrada em um recinto sagrado. Para entrar numa igreja ou
capela, há um preparo, não se costumando simplesmente entrar da rua –
pensa-se que lá dentro ocorre algo de divino. Se se trata de assistir
um culto, coloca-se roupa adequada, prepara-se o estado de espírito.
Depois abre-se a alma para que ela possa receber o que vem de cima. Na
meditação também é necessário preparar-se e, em seguida, estrutura-se
essa meditação e depois imerge-se nesse conteúdo. É importante unir a
cabeça ao coração. Nessa situação a pessoa deve encontrar-se numa
calma, em um movimento de receber com serenidade. No final é
importante fazer um encerramento, e como que passar por uma porta e aí
entregar-se ao dia-a-dia. Não se deve vincular o ambiente e o conteúdo
da meditação com o dia-a-dia. Somente os frutos da meditação devem
fluir para o cotidiano.

Há dois tipos fundamentais de meditação: na forma de imagens,
envolvendo objetos ou símbolos. Do outro lado, meditação sobre a
linguagem: frases ou pensamentos. Trata-se de dois tipos fundamentais
de meditação. Uma é a que envolve imagens, relacionando-se o que está
lado a lado. Já a meditação em verso relaciona-se com o que é
seqüencial. Vamos discorrer sobre alguns exercícios e até executá-los,
com a finalidade de incrementar aquelas 5 capacidades.

Existem muitos exercícios de concentração, mas não é isso que faremos,
e sim exercícios que ativam o pensar, para que ele se torne mais
produtivo.

1. Vamos partir de um símbolo. Uma meditação dada por Rudolf Steiner
(mas já conhecida anteriormente) concentra-se na forma de duas
espirais entrelaçadas [desenha no quadro-negro duas espirais começando
perto uma da outra, uma terminando em cima e a outra em baixo].

É importante começar com a observação. Essa figura tem dois elementos.
Como eles relacionam-se entre si? Eles são parecidos, mas têm uma
polaridade. Pode-se considerar que a de cima adentra e a de baixo
desenrola-se para fora: uma concentração e uma expansão. Observa-se
que as duas são redondas. Pode-se agora imaginar que há um ponto
central na convergência das duas. Uma vem de cima, termina e
desaparece; a outra ressurge da primeira e volta-se para baixo. Esse é
o primeiro nível, o da observação.

Observando-se mais atentamente, vê-se que é impossível olhar para essa
figura sem fazer um movimento interior. Experimente-se olhar
rigidamente para ela sem fazer um movimento; continuamente se é levado
a ele. De fato, os símbolos meditativos são tais que a pessoa insere-
se nas correntes cósmicas.

Tenta-se agora descobrir quais pensamentos brotam a partir dessa
figura. Por exemplo, os pensamentos de infinito e de desenvolvimento.
Percebe-se que existe um ponto virtual, onde não há nada, de onde
partem novos impulsos. Há situações onde se passa algo que não tem
nada a ver com os sentidos, como o sono e a pausa na música. O que se
passa na pausa na música ecoa do passado e leva para o futuro. Existem
pianistas que sentam-se ao piano e começam imediatamente a tocar;
outros sentam-se e vem uma pausa. A primeira nota fica diferente se há
uma pausa anterior. Também entre a inspiração e a expiração do ar há
um ponto de transição. Pode-se dizer que o ser humano é um ser
respirador. O mesmo se dá com o adormecer e o acordar e com o
nascimento e a morte. Há outras polaridades como essas; na transição
há um espaço supra-sensorial que devemos buscar. Tudo o que se elabora
tendo por base essa forma deve levar a uma abstração, tentando-se
buscar um sentimento de base, e com ele retornar para a forma.

O importante é que a partir da forma foi estimulado um pensar
produtivo, que não está na própria forma.

Esse é um exercício de meditação sobre um símbolo que Steiner deu a um
discípulo com a seguinte indicação: uma involução que desaparece e que
reaparece. Algo que desaparece e depois começa de uma forma nova. É
como uma planta que desaparece no solo no inverno da Europa, para
ressurgir novamente na primavera, a partir da Terra.

Pode-se olhar para essa figura com as espirais e reconhecer a
evolução; a evolução do ser humano e da Terra não são lineares; algo
desaparece e ressurge.

2. Vejamos um outro exercício para concentração; fazendo-se-o por
poucos dias percebe-se que a capacidade de concentração melhora.
Trata-
se de imaginar dois triângulos eqüiláteros iguais com um lado
horizontal comum. [É interessante não se fazer um desenho das figuras
nos vários estágios descritos a seguir, para que a imaginação das
mesmas venha somente de uma criação interior.] Pode-se agora imaginar
que o triângulo inferior fica fixo e que o superior desce mantendo o
eixo meridiano. Quais os diferentes estados? Inicialmente aparece na
interseção um hexágono achatado; continuando o movimento, esse
hexágono vai aumentando, até ficar regular (todos os lados iguais),
quando se está com uma estrela de 6 pontas, a estrela de David.
Continuando, o hexágono interior fica cada vez mais esticado, até que
base do triângulo superior encoste no vértice inferior do outro
triângulo, obtendo-se um losango regular no lugar do hexágono.
Continuando ainda o movimento, o losango, sempre regular, vai
diminuindo e se chega à situação inversa à inicial, em que os
triângulos tocam-se em um vértice. Em seguida imagine-se o triângulo
inferior movendo-se para cima, etc. Esse exercício requer uma
concentração enorme; perdendo-se o fio, deve-se recomeçá-lo novamente.
Um aperfeiçoamento é imaginar o triângulo superior amarelo e o
inferior azul; a interseção deve ser imaginada em verde. Rudolf
Steiner diz que, ao se imaginarem cores, deixa-se para trás o
pensamento ligado ao sensório.

Com esse exercício treina-se a capacidade de formar imagens
interiores.

3. Ainda outro exercício é imaginar-se um círculo vermelho, e em volta
dele um anel verde. Há pessoas que têm dificuldade de imaginar cores.
Se esse for o caso, é interessante imaginar inicialmente tudo
vermelho: grama, vestimenta, árvore. Em seguida, imaginar tudo verde.
Em seguida tenta-se rapidamente condensar esse verde numa
circunferência. Isso é uma ajuda para os que têm dificuldade de
imaginar cores.

O problema começa agora. A área circular geralmente não fica parada;
às vezes foge, ou se movimenta. Pode-se perceber que é necessário um
esforço muito grande para manter a imagem do círculo rodeado pelo
anel.

O exercício consiste em alternarem-se as cores ritmicamente: círculo
verde, anel vermelho, voltar ao original, etc. Pode-se perceber que
isso é muito difícil; quando se consegue alternar 7 vezes já é muito
bom. Deve-se ser muito rápido, pois às vezes a imagem surge e
desaparece. Isso exercita o despertar no mundo da movimentação.

4. Pode-se fazer um outro exercício que conduz a um pensar diferente
do comum. Em geral pensa-se sempre em uma certa coisa ou em outra, de
maneira excludente – sem esse tipo de pensamento não se pode usar um
computador. Para contrapor-se a esse tipo de pensamento, pode-se
imaginar uma circunferência, fazendo seu raio crescer. À medida que a
circunferência cresce, a curvatura diminui até ela transformar-se numa
reta infinita. Isso acontece quando se está no meio do mar, e em toda
a volta tem-se uma linha. É o ponto limítrofe entre o finito e o
infinito. Pode-se em seguida fazer o contrário: imaginar a
circunferência cada vez menor, até reduzir-se-a a um ponto. Um ponto
ideal é infinitamente pequeno, não pode ser desenhado. É algo que não
existe, mas a partir do qual tudo pode surgir. O limite interior das
duas espirais vistas, o que elas têm em comum, é um ponto. Uma
circunferência não é uma reta, e uma reta não é um ponto, nem uma
circunferência é um ponto. Mas o ponto transforma-se em circunferência
e esta transforma-se em reta. De um aparece o outro. Pode-se dizer que
a circunferência vive entre o ponto e uma reta infinita. Dessa forma
os conceitos não se excluem mutuamente, mas transformam-se um no
outro. [Note-se que, no exercício anterior, o ponto de encontro dos
vértices dos dois triângulos é o limite pontual dos losangos de
interseção dos triângulos; os losangos são o limite dos hexágonos,
quando os lados superior e inferior se reduzem a um ponto; o lado
comum inicial dos triângulos é o limite dos hexágonos.]

Podem-se fazer esses exercícios na fila do caixa do supermercado...

Com eles fortalece-se o pensar para a meditação.

Um outro aspecto: qual a qualidade da meditação que tem mais caráter
de imagem e a com mais caráter de palavra?

Na meditação por imagens, o objetivo é formar uma unidade: as rosas e
as cruzes. [Referência à meditação "rosa-cruz"; ver o livro de Steiner
A Ciência Oculta, capítulo "O conhecimento dos mundos superiores, São
Paulo: Ed. Antroposófica.] Observando-se uma obra de arte foca-se
sucessivamente em detalhes, mas se deve buscar a unidade. Quando se
observa uma obra de arte, tudo leva ao movimento. Pode-se dizer que,
basicamente, na meditação em imagens deve-se colocar o que está lado a
lado para movimentar para a unidade.

Na meditação com versos é o contrário – há uma seqüência de
acontecimentos no tempo. No entanto, também se deve procurar uma
unidade. Quando se faz a meditação de um verso, a primeira linha ainda
é valida na 2a, 3a, etc. Em outras palavras, devo transformar uma
seqüência temporal levando a uma unidade, um todo.

Para isso, um exercício maravilhoso é, conhecendo-se bem um verso, ao
dizer a primeira palavra, desenrolar-se todo o resto. Pode-se agora
experimentar dizer interiormente o verso começando pela última linha e
indo até a primeira. Dominando-se essa forma, pode-se falar
interiormente palavra por palavra de trás para frente, e até sílaba a
sílaba (excelentes exercícios para a fila do supermercado!). Quem
conseguir ir contra a seqüência normal de um verso, jamais o esquece.

Os exercícios de imaginar ou falar interiormente algo de trás para
frente são muito bons, pois quando passamos para o mundo supra-
sensível, por exemplo, ao adormecer, tudo se passará de trás para
frente. Por isso Rudolf Steiner recomenda a retrospectiva da noite
para a manhã do dia que está terminando [ver A Ciência Oculta, no
capítulo citado acima]. Assim entra-se no fluxo do depois de
adormecer.

Esses foram apenas exemplos de como preparar-se para a meditação.
Passemos agora à questão de como enfrentar os perigos que podem advir
com ela.

Existe uma frase no Como se Adquirem Conhecimentos dos Mundos
Superiores: "Se se pretende dar um passo no desenvolvimento
espiritual, é preciso dar três passos no desenvolvimento moral".

Os perigos são cair-se num egoísmo refinado e na ilusão. Quando se
chega mais a fundo na Antroposofia, vê-se que não se aprende sobre boa
alimentação, o bom vestuário de seda e de lã; o risco que se corre é a
pessoa entrar em um clima naturalista exagerado, levando a rejeições.
Pode-se ainda despertar na manhã e não continuar a ser um ser social,
pois quando dormimos somos sociais. Por isso é decisivo o adormecer
consciente, passar-se do egóico para a periferia. Isso tem a ver com
uma das metas da meditação, que é separar o âmbito anímico-espiritual
do corpo físico. Esse é um processo de escarnação. A grande pergunta é
o que acontece com os próprios costumes quando o dono da casa vai
passear. Sempre que um espírito deixa um local, sobra um espaço que
pode ser ocupado por um espírito inferior. Daí o grande risco de
pessoas que procuram a soltura do anímico-espiritual: se não fizerem
um desenvolvimento moral elas tornam-se pessoas piores do que eram
antes. Por isso é necessário cuidar para fazer exercícios que tornem a
alma sadia, isto é, desenvolver um pensar sadio, um sentir sadio e um
querer sadio. É como trancar a casa e torná-la sadia.

Rudolf Steiner dá 3 exercícios aparentemente muito fáceis; ele diz que
constituem na realidade um dever:

1. Controle do pensar – concentrar em um pensamento sobre algo bem
objetivo, que corresponda à realidade. Bem simples: 5 minutos por dia
concentrar-se num objeto, por exemplo, numa tesoura – qual o seu
aspecto, seus elementos, o que pode ser feito com ela.

2. Exercício da vontade – planejar alguma ação e realmente executá-la.
A vida atual é calçada de coisas que deveriam ser feitas e que não o
são. Vivemos em um período em que quase não se exercita a vontade.
Pode-se planejar, à noite, algo para o dia seguinte: por exemplo,
antes de pôr a chave na fechadura da porta, bater nela 3 vezes. É
importante que não haja nessa atividade nenhuma necessidade envolvida.
Chega um dia em que se aproxima da à porta e vem a imagem de se estar
batendo nela – isso dá um sentimento imenso de alegria: "Faço o que
decidi." Tem-se com isso um sentimento de soberania sobre si próprio,
de liberdade.

3. Equanimidade de sentimentos. Pelas confrontações muitas vezes
reage-
se sem que se queira. Por exemplo, uma professora que se irrita com um
aluno. Depois fica desgostosa por se ter aborrecido. Não se trata de
não ter sentimentos, mas de dominá-los e não se deixar dominar por
eles.

No livro de Daniel Goleman Inteligência Emocional há uma história de
um samurai que encontra um zen-budista e pergunta a este: "Diga-me
qual a diferença entre céu e inferno". O budista diz: "Não tenho tempo
para responder". O samurai saca a espada e o zen-budista diz: "Isso é
o inferno". O samurai reconhece o mal que iria fazer e repõe a espada
na bainha. Diz então o budista: "Este é o céu". Não ser dominado pelos
sentimentos significa enobrecer o sentir.

Há ainda 2 exercícios mais relacionados com a sociedade:

4. Positividade. Normalmente vemos o que é errado. Não é necessário
ter treino para criticarmos uma outra pessoa. O exercício consiste em
procurar ver algo que pode evoluir, não o que não existe. Por exemplo,
olhar uma rosa e não se fixar nos feios espinhos e sim na beleza da
rosa. Pode-se exercitar o descobrir o lado positivo de tudo. Isso
significa um enriquecimento social incrível. Não é possível ser médico
ou professor sem positividade. O médico precisa acreditar nas forças
de cura; o professor deve crer nas forças para o futuro.

Esse exercício é de importância muito grande para o convívio social.

5. Abertura. Abrir-se a tudo o que o que é novo. Na Alemanha, nos
últimos anos, comparou-se o indivíduo a uma empresa. Isso é horrível,
mas tem algo de realidade: carregamos preconceitos. Ao ver algo,
sabemos imediatamente do que se trata; sabemos o que o outro vai dizer
antes de ele abrir a boca. Carregamos uma série de experiências do
passado, na forma de conceitos e preconceitos. Temos que fazer toda
uma transformação para deixar de lado tudo o que já somos e possuímos.
As qualidades a serem exercidas são abertura e falta de preconceito.

6. O último exercício consiste em exercitar conjuntamente os 5
anteriores.

O todo desses 6 exercícios corresponde ao desenvolvimento do chacra,
ou "flor de lótus", do coração. Isso tem a ver com o que foi
mencionado na primeira palestra – ir cada vez mais da cabeça para o
coração. Não pode ser de outra forma – o resultado deve ser o
incremento humano. Esses exercícios não devem ser feitos para se
melhorar pessoalmente, para dizer a um outro: "você é inferior". Eles
devem ser feitos para se poder atuar melhor, para com eles tornar-se
mais humano. [Ver esses 6 exercícios colaterais no livro A Ciência
Oculta, capítulo citado.]

Esses 6 exercícios colaterais devem ser feitos durante toda a vida. É
interessante formar grupos para discutir as experiências de cada
pessoa com eles, por exemplo de mês em mês. Isso é muito favorável,
pois sabe-se que dentro de um mês haverá uma nova reunião e isso dá um
impulso para fazer os exercícios até lá. Assim forma-se uma comunidade
em torno dos exercícios.


 

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Comportamento verbal e os principais operantes






Segundo Skinner (1957) o comportamento verbal é um comportamento operante, que ocorre quando um indivíduo se comporta e existe a mediação do outro.
Segundo Skinner (1957) o ouvinte responde aos estímulos verbais produzidos pelo falante. O indivíduo é falante ao comportar-se verbalmente perante o outro e torna-se um ouvinte ao comportar-se funcionalmente a estímulos verbais produzidos por outros indivíduos.
O comportamento verbal constitui uma resposta que ocorre sob efeito de múltiplas causas, como comportamento operante o comportamento verbal pode ser explicado a partir da análise de uma contingência de 03 termos. As diferentes características das relações entre os 03 termos é que caracterizam os diferentes operantes verbais.


Como principais operantes verbais tem-se:
Mando- operante verbal pelo qual a comunidade verbal é capaz de dar ordens, fazer pedidos, identificar reforços necessitados pelas pessoas, fazer perguntas, dar conselhos e avisos, pedir atenção de alguém, etc.
O repertório de mando (assim como outros operantes verbais) é construído em situações em que um operante verbal emitido sob privação ou estimulação aversiva foi seguido de uma mesma conseqüência reforçadora.
SD(OE)-> R(falante)-> C(especifica)/(ouvinte)

O mando especifica seu reforço, enquanto os outros operantes verbais (tato, ecóico, intraverbal, textual...) são relativamente independentes de qualquer operação estabelecedora. O controle antecedente é exercido por estímulos antecedentes específicos e emitem reforçador não-específico.

Tato- permite que a comunidade verbal tome contato, indiretamente, através do comportamento verbal do falante, com vários aspectos do ambiente físico e cultural. O tato é controlado por estimulo discriminativo não-verbal, tendo como conseqüência o reforço generalizado(tato puro). Porem pode ficar sob controle de um antecedente e de uma operação estabeledora, neste caso também é um mando(tato impuro).
Segundo Skinner o tato seria o operante verbal mais importante devido ao controle exercido por um estimulo antecedente não verbal estabelecido por uma comunidade reforçadora. O tato beneficia o ouvinte porque amplia a sua interação com o meio, possibilitando o ouvinte ter contato com um estimulo, mesmo na ausência dele, a partir da resposta do falante. E beneficia em relação a aprendizagem, como por exemplo a criança tatear cores, letras, números.
SD(ñ verbal)->
R(verbal)(falante)->
C( reforço generalizado)
Além deste conceito há também o tato autodescritivo, comportamento verbal emitido por um individuo controlado por outro comportamento emitido pelo mesmo.
Ecóico- condição prévia necessária para o estabelecimento de outros tipos de operantes verbais. É controlado por estimulo discriminativo verbal apresentado por outro falante e por reforço generalizado. O estimulo discriminativo e a resposta verbal correspondem ponto-a-ponto. O individuo atua como ouvinte e como falante.
SD(verbal)(falante)->
R(verbal)(ouvinte)->
C(não especifica)
R=SD

Intraverbal- O intraverbal diferencia-se do tato basicamente por causa dos estímulos discriminativos que controlam cada um dos dois, no caso do primeiro, o discriminativo é verbal e no segundo não-verbal.
SD(verbal)(falante)->
R(verbal)(ouvinte->
C( não especifica)
SD≠R
Adquirindo um repertorio intraverbal fica mais fácil adquirir outros comportamentos verbais e não-verbais. Quando um individuo adquire um repertorio intraverbal, aumenta a força de suas respostas verbais, pois estas ficam sob controle de uma diversidade de estímulos verbais que são produzidos pela comunidade.
Após esta apresentação breve dos principais operantes verbais pode-se notar que o que diferencia o comportamento verbal em relaçao a outros operantes é que as relações entre a conseqüência provida pelo ambiente e a resposta são mediadas por pessoas. A função do comportamento verbal relaciona-se a vida do homem em sociedade.
Cada operante verbal exerce um controle funcional independente. Portanto adquirir um operante verbal pode ser requisito para aquisição de outro operante verbal, não necessiariamente torna a pessoa apta a emitir todos os operantes a partir da aprendizagem de um.
Em se tratando de ensino a crianças com desenvolvimento atípico é muito comum a falta de habilidade de lidar com operantes verbais. Dentre os vários manuais utilizados, Fazzio notou a falta de homogeneidade entre os programas de ensino, alguns priorizam iniciar os treinos com comportamentos nos quais o individuo atua como falante, em outros que o individuo atue como ouvinte.
Porem todos envolvem inicialmente treinos mais simples, com topografias menores e poucas relações de controle de estímulos envolvidos e vai se estendendo para treinos mais complexos com topografias maiores e mais relações de controle de estímulos envolvidos. O que se faz essencial neste aspecto é considerar o repertorio de cada individuo, para organização e planejamento dos treinos dos operantes.


Fonte: Comportamento verbal e os principais operantes - Comportamental - Abordagens - Psicologado Artigos http://artigos.psicologado.com/abordagens/comportamental/comportamento-verbal-e-os-principais-operantes#ixzz1tFZVsgIl

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O que é a psicologia forense?


Quando as pessoas perguntam "o que é a psicologia forense?"  Elas geralmente pensam nos profilers criminais visto em filmes e programas de televisão, quando esta é apenas uma fração do que acontece na realidade. Em sua definição mais básica, a psicologia forense é a aplicação da prática da psicologia dentro da lei e do sistema jurídico. A palavra "forense" se originou da palavra latina "forensis", que significa "do fórum" referindo-se à corte imperial na Roma antiga. A este ramo relativamente novo e especializado da psicologia  foi dado o reconhecimento oficial pela Associação Americana de Psicologia apenas em 2001.
O retrato da psicologia forense em seriados, livros e filmes provocou uma onda de interesse no campo, especialmente nestes últimos anos. No entanto, estas são representações glamourizadas da profissão e não são totalmente precisas. As pessoas que praticam psicologia forense não são estritamente "os psicólogos forenses" , eles também poderiam ser psicólogos clínicos ou psicólogos infantis, mas a sua experiência ou conhecimento pode ser obrigado a prestar testemunho, avaliação e recomendações em casos legais. Alguns de seus papéis incluem a determinação da competência de um indivíduo para ser julgado, avaliação da saúde mental em casos, por exemplo, de insanidade e avaliação forense especializada na personalidade de um indivíduo. Por exemplo, um psicólogo clínico pode ser solicitado a avaliar a saúde mental de um suspeito ou um psicólogo infantil será solicitado a avaliar crianças submetidas a abusos ou prepará-los para depoimento no tribunal em casos de custódia penal ou criança.
Psicólogos forenses trabalham em prisões, delegacias de polícia, escritórios de advocacia, centros de reabilitação ou agências do governo e lida diretamente com os advogados, arguidos, vítimas, familiares ou pacientes dentro dessas instituições. Suas responsabilidades no âmbito das instituições correcionais é envolver regulares avaliações psicológicas, sessões de terapia individual e de grupo, gestão de raiva ou de crise e outras avaliações judiciais. O trabalho da psicologia forense também inclui o trabalho com os departamentos de polícia, para avaliar agentes da lei e dar formação sobre o perfil do criminoso e outros cursos relevantes. Há também aqueles que preferem atividades acadêmicas em universidades para fazer mais pesquisas sobre o direito em criminologia, e do comportamento humano. Analisar a evolução da criminalidade, perfis criminais e eficazes tratamentos de saúde mental são alguns dos temas abordados pela psicologia forense.
O que separa este ramo de outras áreas como a psicologia clínica é que a psicologia forense é limitada a funções específicas em cada caso individual, tais como o fornecimento de conselhos sobre a capacidade mental do suspeito para enfrentar as acusações. Aprender as respostas para "o que é a psicologia forense?" Significa lidar com pessoas que estão recebendo avaliação e tratamento não por escolha, ao contrário do cenário usual da clínica onde os clientes se oferecem para procurar ajuda.
Eles também são chamados para prestar depoimento de um especialista, mas deve ser bastante conhecedor do sistema jurídico a ser chamado como testemunha credível para o caso.  A maior parte de seu papel é estar se preparando e entregando o seu testemunho e traduzi-lo para termos legais, o que tem sido mais desafiador já que os advogados sabem como minar ou desacreditar opiniões psicológicas. Houve casos de simulação ou doenças fingidas onde os psicólogos devem saber reconhecer os sintomas reais, bem como avaliar a consistência das informações em diferentes fontes. Uma grande parte da compreensão da resposta à pergunta "o que é a psicologia forense" significa ser capaz de explicar ou reformular termos psicológicos ou princípios dentro de um quadro jurídico

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Existencialismo - Soren Aabye Kierkegaard


Toda obra de Kierkegaard é a pura expressão de sua própria vida. Seu pensamento surgiu da luta de consciência perante sua condição de existir. A condição absoluta de sua filosofia, e até a única razão de seu viver, estava na relação estreita entre existir como pessoa e a consciência desse existir. Foi, na verdade, o primeiro representante da filosofia existencial e o primeiro a se preocupar em compreender a existência.
Kierkegaard defendia a idéia de que existe uma verdade subjetiva: “uma verdade que seja pra mim encontrar uma idéia pela qual eu possa viver ou morrer” (1974). Sua religião – luterana – se opunha a esta concepção. Tornou-se um filósofo solitário por não conseguir se adaptar às idéias religiosas então impostas, assim como pela angústia do pecado e da sensualidade que o invadiam na época.
A filosofia resumia-se na tomada de consciência das exigências absolutas feitas a qualquer pessoa que quisesse viver uma existência verdadeiramente autêntica. Para ele, pensar não é existir, mas tornar-se um espectador dessa vivência. Oposto ao racionalismo de Descartes. No racionalismo, o sujeito é objeto para si mesmo, deixando de existir como pessoa, e é ai que reside a grande diferença de Kierkegaard: o sujeito e o objeto são uma coisa só, ou melhor, são partes de uma mesma estrutura. Basta compreender-se existindo; viver a experiência ao invés de observá-la de fora. A verdade é própria existência, não havendo, por isso, uma verdade absoluta. Ela existe para o indivíduo na medida em que, por ação, a produz.
A escolha constitui uma das noções mais importantes de sua filosofia, pois era vista como uma espécie de núcleo da existência humana. A escolha é desprovida de lógica, mas não de uma psicológica: o que o indivíduo faz, depende do que ele quer, do que escolher, não do que compreende. Entretanto, nenhuma opção se realiza sem angústia. Cada escolha é um risco pela sua própria incerteza. Existir é escolher-se. Sendo artífice de si mesmo, realizando a sua essência, uma pessoa se expõe ao risco. A escolha é necessária e livre: o indivíduo é obrigado a fazer opções para existir, embora essas opções não sejam constrangedoras.
Ao mesmo tempo, existir implica em angústia e desespero. A obrigação de escolher, assim como o risco a que se está exposto, desespera.
Analisando a existência humana, percebe que esta se processa em três estágios: estético, ético e religioso. Não se tratam de estados que todos os indivíduos passariam sucessivamente, mas opções que cada um realiza no decorrer da existência.
O primeiro é causado por um hedonismo onde impera a dor e o tédio. Buscando um sentido para a sua existência, o indivíduo se coloca ao sabor dos impulsos. As possibilidades que o indivíduo realiza neste modo de vida não proporcionam uma realização plena, mas apenas uma atualização transitória. A ameaça do tédio é uma constante neste estágio, o que pode conduzir ao desespero. Diante disso, e frustrado em seu objetivo, o indivíduo passa para o segundo estágio. Este está ligado ao dever, às regras e às exigências a que o indivíduo está exposto.
O mais importante aí não é a quantidade de dever, mas a sua intensidade sentida pelo indivíduo. A liberdade agora está limitada pelo social. O extremo da etapa ética leva à contradição. Com a idéia de pecado, essa etapa fracassa, pois surge o arrependimento, sentimento supremo nesse momento. Acredita-se então que é necessário ultrapassar esse estágio, chegando a uma outra etapa, a religiosa. Neste caso, a escolha do indivíduo independe de critérios pulsivos, racionais ou ainda de regras universais. Entretanto, o desespero e a ansiedade são fortes sinais que ajudam o indivíduo a escolher. É pela religiosidade que o indivíduo atinge uma relação com o Absoluto e encontra a existência que tanto almeja.
O desespero de sim mesmo é a grande preocupação de Kierkegaard, que surge diante do vazio não-satisfeito pelos estados anteriores. O prazer antes alcançado no passado, somente pode se repetir no futuro quando o indivíduo se submete religiosamente diante do desconhecido.
O paradoxo e o absurdo, assim como o desespero e a angústia, o risco e o drama do indivíduo, a subjetividade em oposição à incerteza absoluta do objetivo, são o arcabouço da filosofia de Kierkegaard, que não chega a ser um sistema organizado e construído, pois sua maior preocupação é com o profundo conhecimento da personalidade, com a existência do indivíduo. Não se pode reduzir a existência humana a conceitos abstratos, já que a realidade é concreta.
É da doutrina Kierkegaardiana que os filósofos existenciais derivam seus conceitos. Precisavam no entrando, de um método de reflexão e de análise apropriado, e foram buscá-lo em Husserl.


Fonte: Existencialismo - Soren Aabye Kierkegaard - Humanismo - Abordagens - Psicologado Artigos http://artigos.psicologado.com/abordagens/humanismo/existencialismo-soren-aabye-kierkegaard#ixzz1m8NFxIOK