quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Sobre o modelo conceitual da Terapia do Esquema


 
 
O enfoque dessa proposta mescla elementos das escolas cognitivo-comportamental, de apego, da Gestalt, de relações objetais, construtivista e psicanalítica em um modelo conceitual e de tratamento rico e unificador. Muitas vezes, pacientes com transtornos de personalidade e problemas caracterológicos não respondem totalmente a tratamentos cognitivo-comportamentais tradicionais (Beck, Freeman et al., 1990). Geralmente, esses tratamentos são de curto prazo (em tomo de 20 sessões) e concentram-se na redução dos sintomas, na formação de habilidades e na solução de problemas atuais na vida do paciente. Como geralmente carecem de flexibilidade psicológica, os pacientes caracterológicos têm muito menos capacidade de resposta a técnicas cognitivo-comportamentais e com frequência não passam por mudanças significativas a curto prazo. Em lugar disso, são psicologicamente rígidos, o que configura uma marca dos transtornos de personalidade. Estes pacientes tendem a expressar desesperança com relação a mudança. Seus problemas estão em sintonia com o ego, e estão tão integrados a quem são, que não podem imaginar alterá-los. A terapia do esquema surge então como uma abordagem sistemática que amplia a terapia cognitivo-comportamental, integrando técnicas derivadas de várias escolas diferentes de terapia. Com relação ao conceito de esquema, podemos dizer, em termos gerais, que esquema seria qualquer princípio que um indivíduo use para organizar e entender sua própria experiência de vida. Estes princípios vão se constituindo ao longo da vida, podendo ser adaptativo ou desadaptativo. Para Young, o esquema desadaptativo geralmente é um tema ou padrão amplo, difuso, formado por memórias, emoções e sensações corporais. Está relacionado a si próprio ou aos relacionamentos com outras pessoas. Foi desenvolvido na infância ou adolescência e é elaborado ao longo da vida do indivíduo e é significativamente disfuncional em sua vida. Young teoriza que os comportamentos desadaptivos desenvolvem- se como respostas a um esquema. Estes esquemas frequentemente estão relacionados a experiências traumáticas durante a infância, e são ativados posteriormente quando adultos, por eventos que percebem como semelhantes a estas experiências aversivas da sua infância. Quando ativados experimentam formas de emoções negativas, como aflição, vergonha, medo, raiva. Mas é importante lembrar que nem todos os esquemas são fundamentados em traumas ou maus tratos na infância, contudo, todos são destrutivos e a maioria são causadas por experiências nocivas repetidas, que acumuladas podem levar ao surgimento de um esquema pleno.
Os esquemas desadaptativos remotos são persistentes, lutam para sobreviver. Pode ser resultado da necessidade de coerência que os seres humanos têm. O esquema é o que o indivíduo conhece, embora cause sofrimento a ele, é confortável e familiar, e pode causar a sensação de estar bem, julga normal estar insatisfeito. Estes esquemas assim como as crenças centrais o paciente o consideram verdade a priori, de modo que influenciam o processamento de experiências posteriores, influindo na forma como os pacientes pensam, agem, sentem e se relacionam com os outros. Os esquemas são dimensionais: tem diferentes níveis de gravidade e penetração. Assim, quanto mais grave o esquema, maior é o número de situações que podem ativá-lo. A teoria dos esquemas propõe que, fundamentalmente estes esquemas resultam de necessidades emocionais não satisfeitas na infância, citarei cinco necessidades emocionais fundamentais para os seres humanos, são elas: vínculos seguros com outros indivíduos (que inclui segurança, estabilidade, cuidado e aceitação); autonomia, competência e sentimentos de identidade; liberdade de expressão, necessidades e emoções válidas; espontaneidade e lazer; limites realistas e autocontrole. O objetivo da terapia do esquema e ajudar os pacientes a encontrar formas adaptativas de satisfazer suas necessidades emocionais fundamentais. Observamos quatro tipos de experiências no início da vida que estimulam a aquisição de esquemas. A primeira é a frustração nociva de necessidades, que ocorre quando a criança tem poucas experiências boas e adquire esquemas como privação emocional. O segundo tipo é a traumatização ou vitimização, causando neste caso um dano a criança, onde ela desenvolve esquemas como desconfiança/abuso, defectividade/vergonha ou vulnerabilidade ao dano. Um terceiro tipo é quando a criança é superprotegida, ou passa excessivamente por experiências boas, não criando limites pois não passa por muitas frustrações. Neste caso pode gerar esquemas de dependência/incompetência ou arrogo/grandiosidade. O quarto tipo seria a internalização ou identificação seletiva com pessoas importantes, como por exemplo quando a criança se identifica com o pai abusivo e passa a se comportar agressivamente como ele.
Os 18 esquemas estão agrupados em cinco categorias amplas de necessidades emocionais não-satisfeitas a que chamamos “domínios de esquemas”.          O primeiro domínio seria o da Desconexão e Rejeição. Pacientes com esquemas neste domínio são incapazes de formar vínculos seguros e satisfatórios com outras pessoas. Acreditam que suas necessidades de estabilidade, segurança, cuidado, amor e pertencimento não serão atendidas. São cinco os esquemas neste domínio, os esquemas de Abandono/instabilidade, Desconfiança/abuso, Privação emocional, Defectividade/vergonha, Isolamento/alienação.
O segundo domínio é o da Autonomia e Desempenho Prejudicados. Os pacientes com esquemas nesse domínio têm expectativas sobre si próprios e sobre o mundo que interferem em sua capacidade de se diferenciar das figuras paternas ou maternas e funcionar de forma independente. Os esquemas neste domínio são: Dependencia/Incompetência, Vulnerabilidade ao dano ou a doença, Emaranhamento/self subdesenvolvido, Fracasso.
Outro domínio seria limites prejudicados, onde se leva a dificuldades de respeitar os direitos alheios, cooperação, estabelecer compromissos ou definir ou cumprir objetivos pessoais realistas. Tendo seus limites prejudicados favorecem esquemas de Arrogo/Grandiosidade, como a crença de que se é superior aos outros, e esquemas de Autocontrole/autodisciplina insuficientes, tendo este tipo de pessoa baixa tolerância a frustração.
O domínio do Direcionamento para o Outro envolve a supressão e a falta de consciência com relação a própria raiva e as próprias inclinações naturais. Se caracteriza então pelo foco excessivo nos desejos, sentimentos e solicitações dos outros, à custa das próprias necessidades, para obter aprovação, manter o senso de conexão e evitar retaliação. Abarca os esquemas de Subjugação, Auto sacrifício e Busca pela Aprovação.
 
No domínio da Supervigilância e inibição ocorre a Ênfase excessiva na supressão dos próprios sentimentos, impulsos e escolhas espontâneas, ou no cumprimento de regras e expectativas internalizadas e rígidas sobre desempenho e comportamento ético, à custa da felicidade, auto-expressão, descuido com os relacionamentos íntimos ou com a saúde.).
 
Bibliografia
Jeffrey E. Young; Janet S. Klosko; Marjorie E. Weishaar. Terapia do Esquema: Guia de Técnicas Cognitivo-Comportamentais Inovadoras. 1ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
 
Beck, Judith S. Terapia Cognitivo-Comportamental. 2nd Edition. ArtMed, 2013.